Ele passava o dedo pelo meu corpo, como... Karla Tabalipa
Ele passava o dedo pelo meu corpo, como quem passa o dedo no céu, recolhendo estrelas. E eu brilhava inteira, com o reflexo daquela vontade que acendia quando ele tocava em mim. Meus lençóis guardaram o perfume dele, e a minha memória fotografou aquele sorriso, para que eu nunca esqueça que a felicidade existe.
Andar pela casa com as minhas calcinhas coloridas, e te ver me chamando de ‘menina que nunca cresce, mas continua gigante dentro do meu peito’ não tem mais a mesma graça, e volta e meia provoca tristeza. Renovei meu estoque de meias cor-de-rosa, e de lágrimas provocadas pela falta que você faz.
Enchi as gavetas de sutiãs com lacinhos, e memórias bonitas.
Sua toalha ninguém usou, foi o que restou de você na minha vida. Junto com as cartas, as fotografias que eu nunca olho, e músicas que dói ouvir.
Quando eu ando na rua e o vento me toca, eu lembro de você suspirando, feliz com a temperatura agradável, nem-frio-nem-calor.
A comida do seu restaurante preferido não tem mais o mesmo sabor e o milk shake não é tão gostoso quanto era antes.
Quando outro toca minha pele, o coração não sente. Quando o outro vai embora, a saudade não grita. Quando o outro me abraça, meu mundo não fica em paz.
Mas eu segui em frente. Como a menina, que depois dos tombos, resolveu crescer e virar mulher.
Guardei as tristezas e esperas no bolso, engoli o choro e tratei de cuidar de mim, como você pediu, quando resolveu voltar a ser só poesia.