Quantos mil degraus? Cair do telhado e... Aline Diedrich
Quantos mil degraus?
Cair do telhado e quebrar a perna, jamais impediu que prosseguisse naquela busca insana por um pedaço do céu. Planejava ter uma escada tão alta, apoiada no Everest, para contar com exatidão quantas estrelas habitavam no espaço e tocar o firmamento com a ponta dos dedos.
Desde que nasceu lhe ensinaram a olhar para o alto. Jamais baixar os olhos diante qualquer desafio que a vida colocasse em sua frente. Seu paraíso era ali, o agora, o momento de incerteza e de acreditar em adivinhações tolas do futuro. Foi assim que decidiu escalar as montanhas, pular alguns muros velhos e despintados e colocar seu balanço feito de pneu em meio os prédios da cidade.
Mas por mais que subisse todos os degraus, o firmamento continuava distante. Teve a impressão de que não passava de uma ilusão de óptica, um delírio de consumo impagável, o máximo que seus olhos conseguiam ver. Mas ainda assim era azul. Azul celeste.
Olhou outra vez para o céu.
__ E aí, será que chove?
Perguntou o cara parado ao seu lado, enquanto esperavam o ônibus que estava atrasado como sempre.
Ainda precisava perder o medo de altura.