O ÚLTIMO ENDEREÇO Outros beberão os... Naeno Rocha

O ÚLTIMO ENDEREÇO

Outros beberão os nossos sonhos
E farão isso ainda quando sonhamos
Os devaneadores do mundo
Deixarão papéis com algoritmos
De mapas de tesouros fincados aonde?
Os outros de depois
E escavarão o mundo todo
Colhendo o que não amanham
Distante se chamarão do nosso nome
Legados para parentes, principalmente
E isto não nos perpetua
Porque o mundo e o tempo
Coligados desde o começo
Tratarão de derrubar
O entusiasmo dos outros
E lembrarão do esquecimento de nós
E não terá mais sentido
Nem pela noite nem pelo dia
Lembrar-nos pelo que deixamos
Nem como eram nosso nome
Não erguerão, os outros, os olhos
Pra nos lembrarem mesmo
Se deixamos nossa assinatura
No vão da parede que sustentam a casa
E a casa, pelas pequenas intervenções de agora
Já será deles, como invadiram
Os filhos dos meus filhos
Nos terão esquecido
Mesmo que utilizem nossos nomes
Repetidas vezes, a cada geração.
Nem os nossos retratos amarelos
Farão com que alguém nos lembre.
Mas haverá, menos de um dia
Em que lembrarão de nós encobertos
Por várias cortinas, totalmente esquecidos
E este pedaço de dia será
Do dia que em que precisem urgentemente
Da casa que fizeram para nós.
O único, o último endereço
E nós os acolheremos por ser mistério
Estas fazes de Deus.