Eu, descrevendo eu mesma. Vou indo... Luana Rodrigues.
Eu, descrevendo eu mesma.
Vou indo então assim mesmo, sem frescuras, ou modéstias, vou indo assim mesmo sem vergonha na cara, sem modéstias, fria, sem amor, sem o teu amor, sem o nosso amor. Vou sem nada, só com Deus; sem Deus pois não creio nele, alias, me odeio por não crer em absolutamente nada, me odeio por ser tão crítica, por ser tão desconfiada, por só acreditar no visível, por ser só isso que sou, nada alem disso, sou o tédio em forma de gente, ou melhor, em forma de animal , pois se tu for parar pra pensar, é isso que somos; animais, somos animais da pior espécie.
Bom, disse que já estava indo, mas resolvi sentar e esperar por criaturas que me deixem ser livre, estou esgotada de mim mesma, estou depressiva pelo mundo, e pelo seus abitantes, estou decidida, não vou te ligar, não vou esperar.
Mudei de ideia, vou indo, não vou esperar nenhum detalhe, estou sóbria, sóbria de mim mesma, sobras de um sonho literário, todo escritor quer uma crítica bendita. Toda Eu quer um amor sem rotina.
Acho que vou esperar, vai que nessa espera alguém não chegue me dando boas vindas, me mandando flores, ou me trazendo um jardim inteiro. Espero pois sem a espera não é vida, então antes que eu resolva parar de esperar, vou embora.
Não entendo a maioria das coisas que escrevo, faz tempo que eu me desencontrei. Faz anos em que eu me escondi e me privei de mim mesma, a verdadeira Eu senti muito, sente demais, sente muito mesmo.
Vou indo embora desse lugar onde não passa gente, só uns fios de cabelo voando soltos no ar, apesar de achar que esse é o melhor lugar do mundo, vou indo, o cotidiano me espera. Odeio ser de gêmeos, mudo tanto de ideia, e comportamento, e vícios, e deslumbres.
Odeio ser só eu, a desinteressada por tudo, a brutal amiga da onça, a pessoa que venera o impossível, mas que infelizmente só acredita no visível.