Hoje talvez signifique alguma data... Pietro Kallef
Hoje talvez signifique alguma data desagradável para comemorar, eu necessitava desabafar às minhas palavras, elas não me julgam, apenas cedem suas formas em meio ao ninho de palavras cruzadas que me atravessam feito o vento, invisível. Andei pela cidade pequena e chorei desesperadamente por grandes sintomas de ausência, deixei que as lágrimas escorressem por todo o rosto, para expor a todos cada cicatriz, mas ninguém me parou para perguntar se estava tudo bem, passei - despercebidos. Comprei um cigarro e começei a fumar, eu precisava adquirir novos hábitos, bebi uma "doses" de whisky, tonto estou, errante sou. Quem esbarrou sobre meus ombros, foi você? E por que não me pegou no colo e levou pra casa? O seu cheiro ainda está lá querido, feito brisa que inalo às margens da esperança de um retorno. O chão está alto, pareço flutuar e assim finjo embreagar, pois, viver na lucidez é tortura e me obriga a ver o quanto deixei de ser, isso agora é poesia? ou hiprocrisia? assumo: sou. Deleite-se sobre minhas inverdades e deseje apenas a verdade ao longo desta existência, faça isso por você, somente. Quando resolver libertar-se da vã reflexão e permitir que os sentimentos lhe conduza me encontre no Parque Guimarães Rosa, como da primeira vez, no mesmo tapete verde que nos cobria, não conseguimos sair de lá ainda, não é mesmo? Presos sobre certas convicções. Escurece e a melancolia das próximas horas me dilacera, parte em partes, assim, retorno pela ponte de madeira e noto quanta água há a minha volta. Piso fundo que nem sinto a quantos pés estou, de longe as lanças da Igreja do Bom Jesus parece me recompor a paz, comprovando que tudo tem um certo fim, era o dia do seu casamento. Corri pelos fundos, não estava para arruinar e sim para prosseguir, eu precisava ver com os olhos que me roubou. Tocam sinos, minha marcha fúnebre embala, me retraio e lhe vejo: feliz e realizado. Aos céus grãos de arroz, latas de refrigerantes vagabundos rastejam sobre o mesmo chão, inóspido e cinzento, abraço forte a noite e me convido a fugir sem nenhum vestígio ou memória. Voltei descalço sentindo os estilhaços de velhos tempos, tropeçando sobre os mesmos buracos que cavei contigo, passei pela àquela nossa árvore riscada com nossas iniciais e adormeci ali mesmo, sem perceber. No dia seguinte, onde eu estava antigo amigo? Mendigando não por pão, mas por amor, o seu amor. Já é hora de colocar um ponto final nos vários finais que imaginei à nossa história, melhor, minha.