Cultivar não dói. Preserva.... Amanda Lemos
Cultivar não dói. Preserva.
Ultimamente venho trabalhando e me permitindo a pensar na ideia graciosa do que seria dedicar-se, abrir mão, se importar.
Quem sabe até, passar a dedicar-me aos meros detalhes que antes não dispunha de atenção.
É certo que as vezes manter o controle da situação é difícil, não nego.
Seria estranho se houvesse quem achasse que tudo estaria perfeito como estar e se contentasse por tal.
Eu imploro, não se contente.
Pode parecer prepotência ou ambição nata, mas não se contente, repito.
Há sempre possibilidade de melhorar o que já está bom, embora, atente-se, se melhorar demais estraga.
Sem dúvidas.
Os contras são muitos,
dói menos Amanda se importar, se dedicar, sobrepor.
Estar indisponível talvez seja até a saída para o sucesso, afinal, pessoas tem a tendência extrema de se apegarem e desejarem aquilo que não tem.
No entanto, insisto sim que se dediquem, façam ao menos pelo livre mérito de tentar,
as vezes o próprio fazer já é a recompensa antes do ter.
Valorize os laços, insistam que sejam cultivados e quiçá eternizados. Dê valor ao que se tem hoje, porque o amanhã é tão incerto quanto um terremoto que não pode ser previsto.
Como uma bronca de mãe hoje que se não ouvida poderá resultar em um fracasso futuro, como um desânimo atual que levará a uma queda próxima, como um jardim que não é bem cuidado e na primavera se permite a ter pragas das mais diversas, desde ácaros à cochonilhas.
Faremos uma analogia aos nossos quotidianos relacionamentos, nossas amizades.
Do que seriam feitos se não houvesse alguém que em uma das partes cedesse, abrisse mão, relevasse, dedicar-se ?
Fracassaria.
Como em um casamento.
Não há união perfeita.
Percebam que quando se é para salvar um bom cônjuge uma das partes deve ceder, deve procurar “tapar” os espaços que o outro deixa, deve procurar , por vezes, fechar os olhos às falhas do próximo.
Não confundam porém, equilíbrio e dedicação com inocência ou falso moralismo. Pelo contrário, a esperteza é muitas vezes chave para desencadeamento de uma boa relação, para que ela se mantenha.
Dure, esteja estável.
Outro ponto que ressalto é uma dedicação saudável,
portanto, cobranças excessivas, admitam, acabam com aquilo que já foi predestinado a não acontecer, o que começou errado para nunca dar certo.
Saibam que a essência estar em ter mas não possuir, conceder mas não faltar, amar mas não se desgastar. Partindo deste ponto veremos que as partidas doem sim, mas que se deve deixá-las ocorrerem , pois o que for realmente verdadeiro irá voltar.
Jogue para cima. Cara ou coroa.
Se voltar é seu.
Se não retornou ao berço é porque nunca mereceu o direito de continuar acontecendo.
Mas lembre-se, nada volta da noite para o dia, ou água em vinho. Leva tempo, e um bom tempo.
Tenho aprendido que as boas amizades se constroem na base da simplicidade.
Do dedicar-se ao outro, lhe querer o bem, lhe propiciar o bem.
Sem cobranças, sem amarras, sem entranhas.
Tenho notado que a felicidade vibra pelas coisas mais simples.
Um pequeno gesto, um sorriso nos lábios, um sorvete de creme tomado, uma brincadeira na chuva, um filme visto, ou até mesmo o prazer da leitura.
É tão mágico quando nosso coração se distende de felicidade sem um motivo concreto,
feliz por simplesmente haver necessidade e ânsia por assim desejar.
A amizade, portanto é a mais pura forma de felicidade, a maneira que encontramos de se apegar, formar e cultivar laços;. Maneira que encontramos de situarmos em um mundo onde a definição de impossível não mais existe e que o acaso predomina,
uma maneira de ter e não possuir.
Sim,
Ter a exatidão de que alguém lhe quer bem e lhe ama, mas ter o reconhecimento que este alguém não lhe pertence, não lhe é uma posse.
Não é para menos que dizem que ninguém é de ninguém, também se fossem, qual a necessidade de animais domésticos ? ( me perdoem pela comparação fajuta).
Nessas partidas tão rotineiras, nessas despedidas tão repentinas e nesses amores criados tão sem nexo..; observamos o grande fluxo de pessoas que criamos em nossa vida.
Muitas que vão, outras que chegam, outras que simplesmente fazem uma rápida parada casual.
E muitas poucas que ficam e permanecem em idas e vindas.
Se eternizam em momentos que valem uma vida inteira.
E nessa de ficar, creio que vou ficando por aqui também, pausando nessas palavras confusas e lembrando-lhes novamente do fato de que sem o cultivo rotineiro jardim nenhum atrai borboletas e que amizade alguma brotará do nada.
Cultive sem pesticidas e sem cobranças.
Cultive o bem, porque partindo deste ponto, garanto, o resto vem.