LÁPIDE... Senti uma corrente de ar. Foi... Marcos Ferrer

LÁPIDE...

Senti uma corrente de ar. Foi um ar gélido que tomou conta da sala. Olhei para as janelas e elas estavam todas bem fechadas. Uma suave voz entoou em meus ouvidos:
- Oi meu amor...
Olhei ao redor. Nada vi. Logo cuidei de me acalmar. Pensei ser um sonho. Mas as pílulas não me deixavam dormir havia muito tempo.
Tentei sussurrar teu nome. Mal consegui mover os lábios. Senti um beijo, mas não foi como de costume, cheio de paixão. Este ao contrário foi menos intenso. Achei que era o álcool. Mas não bebia havia dias...
- Oi princesa! ... Pensei tê-la visto, mas foi a cortina balançando ao vento. Afinal encontrei de onde veio a brisa gélida, mas aquela que senti não gelou o corpo e sim a alma.
Observei o relógio e já era tarde. Pensei em ir me deitar, mas hesitei mais uma vez. Então fui ler um livro. Algo que me desse um alento.
Não funcionou. Fiquei mais irritado. Saí da sala e fui à copa. Em cima do armário vi a nossa fotografia em um quadro dourado. Lembrei-me daquele final de semana – ótimo por sinal. A cachoeira, o chalé, roupas jogadas pelo chão. Foi maravilhosa aquela noite, talvez uma das melhores.
E porque mesmo agora estando ao teu lado eu sinto um vazio. Sempre tivemos uma vida feliz. E sempre te amarei...
- Quem é? Parece que vi alguém passando...
- É você querida?
Por que ninguém me responde. Sinto o coração gelar. Um arrepio. Nossa! O que será isto? Eu com meus plenos 35 anos não posso estar com medo...
- Será que foi o cachorro? Mas não pode ser. Ele está lá fora...
Vou até ao quarto e ela está como a deixei. Linda, meiga e quente. Sinto teu perfume, pois ela ainda está em mim. O quarto estava da mesma maneira que eu o deixei.
As velas jaziam sobre o mesmo lugar. O candelabro acima da cama. O mesmo cheiro de incenso pairava no ar.
Olhei para teu rosto e vi um sorriso entreaberto, aquele de canto, como só as crianças tem.
Novamente ouvi passos. Agora estavam pertos demais. Cheguei a sentir sua respiração passas por mim como se nem ao menos eu estivesse ali. Dê um salto aquela pessoa foi à cama.
Tentei agarrá-lo, mas foi em vão. Não pude contê-lo. Assim como você não pode conter a solidão.
Hoje me contento em ver o teu sorriso quando de repente corre uma lágrima dos teus olhos quando você olha para nossa fotografia. Entretanto ainda estou feliz. Pois tenho metade do amor que sempre quis. Porque sei, mesmo vendo você aqui do alto, que vim para ficar. Também sei que ainda me ama. Só não entendi o porquê do outro. Mas tento compreendê-la. Pois não é fácil estar em uma lápide há cinco anos...



Morte
Este é um bom dia para morrer.
Aprendi;
Cresci;
Tive experiências;
Vivi...
Hoje posso dizer que tive uma vida...
Apaixonei-me, sofri e amei...
Conheci você. E hoje sou amante dos mistérios da vida...
Beijei o beijo doce da morte.
Sorvi cada gota da mesma maneira que respirei o teu perfume.
E neste momento de certeza, Te amo.