Que haja vida! Sabe aquele incomodo... Amanda Lemos
Que haja vida !
Sabe aquele incomodo excruciante que lhe faz até estremecer ? Aquela sensação de frio na barriga só de pisar o pé em uma roda gigante, em plenas alturas ? Ou até mesmo aquela consciência pesada de comer uma bacia inteira repleta de brigadeiro quente ?
Se sabem, se já sentiram, se já tiveram a oportunidade de experimentar, ótimo.;
Peço agora que imaginem o inimaginável multiplicado por mil.
Dor por mil, angústias por mil, cautela por mil, cansaço por mil, solidão por mil.
Este último termo me assusta e me faz relembrar de momentos em que em plenas multidões se quer sentia um pingo de vontade de estar ali, ou bem estar por estar próximo de outras pessoas.
Uns dizem que é a paixão tomando conta da sua mente, outras dizem que é puro masoquismo e auto-exclusão;
Mas não sei, cada vez mais me levo a crer que não seria nenhum dos casos.
Estou me desacostumando de gente, de estar, de sentir, de tocar.
De afetos.
Não me falta companhias boas, confesso. Me faltam, talvez, vontade de compartilhá-las.
É um sentir de perder pessoas a cada quatro minutos que se passam, é um sentir de estar desperdiçando dias da minha vida em lamento, é estar jogando fora momentos vividos em êxtase com pessoas que hoje mal cumprimento, é estar esperando que a montanha se mova até mim, que o sol se apague , ou que a neve caia no Brasil.
É estar crendo no que , neste caso, só partiria de mim.
É como um processo secundário de socialização. Como se alguém estivesse recluso a meses e voltasse agora para a sociedade agitada destes dias.
Como um recomeço forjado.
Não houve decepções, não houve lágrimas por motivos, não houve perdas por erros próprios.
Houve desânimo.
Desânimo de correr atrás do que antes seria capaz de saltar de um arranha céus, desanimo de dedicar-me ao que não me traria frutos.
Desânimo de bajulação barata.
Penso que não cresci, não amadureci, estou no pé ainda.,
Penso que estagnei.
Sim.
Se não há repouso absoluto, ao menos haverá de existir um repouso passageiro, e que assim seja, eu imploro aos céus.
Repousei.
Não saio do lugar, nem por decreto.
Não envio novamente milhões de sms, não faço mais ligações eufóricas nas madrugadas e não dou mais importância por quem não faria nem metade, quem lhe vê apenas como mera segunda opção, isto é claro quando ainda não se é a terceira.
Chega um momento que a inocência cansa.
Se cansa de ser bonzinho, se cansa de ajudar, se revolta.
Chuta o balde. ( no entanto, sem ataques psicopatas, por favor !)
É um momento que merece uma auto reflexão.
Alguns que me lerem aqui talvez chegarão a imaginar que me ocorreu um surto de amor próprio, pois bem, no início imaginava isso também, caríssimos. Imaginava que a felicidade fosse só questão de ser, e que parar de se importar fosse sinônimo de sucesso.
Mas observando bem este momento, repito que se trata de estagnação, pois se realmente fosse um surto de amor próprio seria mais óbvio que estivesse realizando processos que me fizessem bem e que me trouxessem felicidade, não que não esteja, mas não é este o ponto culminante.
Como já disse, é um momento de reflexão, de pensamento, de rever as circunstâncias, e acertar os ponteiros para que assim possa dar um segundo passo.
Como se a vida fosse marcada de desenvolvimentos, paradas e novamente posteriores desenvolvimentos, isso levando em conta as situações normais das coisas e não o fato de muitos ao invés de progredirem serem antagônicos, voltarem aos erros e estagnarem de vez, em um para sempre muito e muito longo.
Talvez não seja este o meu caso de estagnação, até porque bons motivos mesmo para tal, não detenho. Nem sequer tenho infelicidades que me façam ir em um bar mais próximo e me inundar do primeiro “Orloff” que me oferecerem.
Tampouco me dou o direito a isso.
Um dia desses,se me permitirem o relato, estava conversando com uma amiga, acompanhas de jarras de sucos dos mais diversos e , perdoem-me a propaganda explícita, baldes e baldes de doritos.
Ela comentava meus textos, meus relatos pessoais e, por vezes, sufocantes.
Dizia que pelos escritos dava para se ter uma noção clara que tudo que escrevia remetia a uma jovem ansiosa.
Ansiosa para tudo.
Acontecimentos, sentimentos, ansiosa por maturidade, conhecimento, valorização, euforia.
Admito o que mais temia, sou ansiosa a ponto de querer tudo para ontem.
Ansiosa pelo simples fato de 24 horas não me bastarem e sempre achar que muito mais poderia ter sido feito e que acabei não fazendo;
Tenho ansiedade por tudo aquilo que atiça a curiosidade e que pode me fazer bem. Ansiedade nata.
Penso até que já nasci saltitando da barriga de minha mãe, não esperando a hora do cordão umbilical ser cortado de vez.
Ansiedade por felicidade e paz nesse coração pequenino, mas tão agitado.
As vezes, até me bate uma pontinha de felicidade e orgulho de tudo que eu já fiz, já aprendi, ou até mesmo, daqueles que me dizem que acabei ensinando.
Ando me propondo a limpar a gaveta do guarda roupa,
roupa velha para quê ? Ocupar o coração com quem não lhe interessa mais, qual o sentindo ?
Vamos deixar entrar, deixe.
Deixe entrar o que faz bem, o que te toca e o que ainda te arranca um sorriso torto dos lábios.
Vamos deixar de lado todas essas lágrimas só de ouvir uma música triste que lhe faz lembrar dos momentos que não mereciam ter sido vividos, ou aqueles que mereciam, terem acabado fora de hora.
Vamos deixar as angústias para depois, porque agora o armário tem roupa de sobra, e nem sequer se consegue fechar a porta.
Vamos facilitar e descomplicar o que é tão óbvio.
Sim, é na terceira pessoa do plural.
Estou me aconselhando, e peço que façam o mesmo.
Se aconselhe do que é bom.
Chorar tempo demais seca as córneas e estas lágrimas podem lhe faltar quando forem realmente necessárias.
Larga esse desespero tolo, que desespero algum já resolveu problema.
Então pronto.
Levanta logo dessa cama, que até o feriado e a primavera chegaram,
troca essa roupa, enxuga esse rosto, pensa que é só você que tem
problemas ? Não querido,
olhe bem para esta inútil escritora que lhe escreve, por exemplo.
Arruma este cabelo, carrega um bom livro à tiracolo e sai por aí como quem sabe viver a vida.
É.
Não há tempo para descanso nessa vida de inexatidão. Nem mesmo quando as dores ardem nas costas ou quando os joelhos já estão tão ralados de dar dó.
Não tem como.
O jeito é viver e não apenas sobreviver.
Pois embora muitos ainda respirem, poucos são capazes de perder o fôlego.
Por via das dúvidas, há de se dar vida aos dias, ou melhor, a cada segundo destes.
Portanto, que se viva e que seja doce.
“On a à vivre.”
Fazer o quê, né ?