Foi fácil como respirar, viciante como... Bruno M. Tôp
Foi fácil como respirar, viciante como se coçar. Terminou mais rápido do que a vontade poderia suportar. A Primavera se foi, em seu lugar se instalou um calor tão gostoso de aproveitar.
As palavras se perderam, os olhares diziam tudo. Só que as definições de tudo, nada e infinito não pareciam significar qualquer coisa perante aquela ponte que se instalou entre os dois olhares.
Isabel respirou fundo e se levantou. Daniel sorriu, e a seguiu. Eles até trocaram palavras, mas elas pareciam não ter significado algum para aqueles dois corações aturdidos que palpitavam descompasadamente, em suas respectivas carapaças.
O tempo passou, a intensidade aumentou. Eles sabiam que aquilo que consumaram era proibido, porém não conseguiam evitar um mal tão desejoso como aquele. O calor que ela sentia dos braços dele; a tranquilidade que ele sentia ao conversar com ela. Era o verão tornando todos os dias, melhores que os outros.
-Você não vai me querer, eu esou te avisando - ele comentou numa conversa qualquer, enquanto ela lhe afagava os cabelos, tentando fazê-lo sorrir.
-Por que não iria querer?
-Não sei, eu sou defeituoso; quebrado, um brinquedo torto - ele se levantou e a olhou nos olhos - e uma hora vou te machucar.
-Pois que você tente, tenho uma proteção muito forte para isso.
-É sério - ele alisou a bochecha dela com um indicador - eu queimo todos com o gelo que meu coração libera.
-Que eu derreta então. - os olhos dela o encararam firmemente - não vou ceder.
-Você...
-É, eu nunca vou deixá-lo ir.
Assim como a chuva passa, os dias cinzas dele se foram. E o sol voltou a brilhar para os dois. Foi só uma chuva de verão; foi o que ela disse para si mesma.
-Não mais - ela protestou quando ele lhe roubou um terceiro beijo.
-Só mais um - ele insistiu se aproximando.
-Não.
-Você é teimosa.
-Olha quem fala - ela se afastou sorrindo - hora de ir.
-Ok - ele a seguiu e quando chegaram a escada, aproveitou da sua altura avantajada, colocou-a em um degrau mais alto e ainda assim ficou meia cabeça acima dela.
-Me solta - ela alertou quando viu que os braços dele prendiam sua cintura.
-Só com um beijo.
-Não vou dar.
-Então eu roubo - e ele o fez.
A tenacidade que ela teve de tentar impedi-lo, se desfez no momento que a voracidade controlou sua língua, e todos seus sentidos. Ele só aproveitou, e se perdeu naquela imensidão de sensações distintas.
Só que o tempo nunca para de girar, e aos poucos, rotinas distintas começaram a afastá-los. Ela se manteve como estava, imutável. Às vezes conseguindo resistir a ele, às vezes cedendo. Só que ele não conseguiu o mesmo.
Um coração deformado, tem a infeliz tendencia de oscilar vez ou outra, e ela não acreditava que isso pudesse acontecer.
-Não dá mais. - ele concluiu após várias explicações confusas, após desculpas pífias e distorções de situações.
-Eu não sei porque você está fazendo isso - ela engoliu o amargo que se formava na garganta. Era tão ruim de sentir aquilo. Ela sempre esperou aquilo; mas era tão pior.
-Porque eu sou assim. Eu te avisei, lembra?
-Não precisa ser assim.
-Precisa. Não aguento mais. Eu sou o egoísta. Eu que te quero pra mim, sem aceitar que você não é um brinquedo, eu que...
-Dan.
-É melhor assim, Isabel.
-Não me chama assim...
-Não dá mais pra você ser a 'bel'. É sério. Eu me vou. Uma lástima. Mas me vou.
E assim que ele desapareceu, ela sentiu tudo esfriar, e percebeu que algumas coisas caíam ao seu redor. Mas não tinha certeza do que realmente eram; As folhas flutuando no ar, avisando a todos da chegada do Outono, ou os pedaços do seu coração trincado, que caía junto com as lágrimas que prometera nunca mais derramar.