Aquela quarta-feira, ah, aquela... Eduarda Morgado
Aquela quarta-feira, ah, aquela quarta-feira, lembro me bem sem querer lembrar. Aquela quarta foi importante, talvez a quarta mais importante de todo o meu aprendizado. Foi a última quarta que te amei, a última quarta que eu lhe disse que amava teu ser e teu corpo. Naquela quarta, eu senti pela última vez o que senti durante um ano todo, e quem diria que era a última vez? Eu não podia, você não podia, ninguém poderia, mas foi. Chorei poças pequenas, depois chorei alguns rios, pela última vez senti o meu amor por você me machucando e botando um sorriso em mim. Eu estava desacreditada, mas só de te ouvir, eu sentia uma felicidade sem sentido. Sentido. O que havia sentido? Nada nunca teve sentido, coração descompassado, lágrimas aceleradas, sorrisos bobos e a vontade de viver se misturando com a vontade de morrer. Você me fez muito mal, você me fez crescer e ver o mundo. Quem te disse que eu queria crescer? Quem te disse que eu queria aprender sobre o amor com o caminho mais difícil. Não sei quem te disse, não sei porque pensou assim, mas estava toda errada. Eu queria seu amor e sua companhia, mais que isso, eu queria você. Na quinta, eu já não sentia mais o mesmo amor, mais sabia que ele estava ali. Ele se enterrou. Por si próprio. Você fez tanto mal ao nosso amor que ele preferiu dormir, coragem de se matar não teve, então preferiu um sono profundo. Agora estou em dúvida. Espera. Acho que não foi a quarta o dia importante. Acho que foi a quinta. Na quinta eu acordei amando mais a mim do que a você, acordei sem sentir amor, acordei mais feliz, acordei mais serena. É. Aquela quinta-feira, ah, aquela quinta-feira, lembro-me bem sem querer lembrar. Aquela quinta foi importante, talvez a quinta mais importante de todo o meu aprendizado. Foi a a primeira quinta feira que eu me amei de verdade.