Nós, que conhecíamos tão bem um ao... Alexandra florêncio

Nós, que conhecíamos tão bem um ao outro, somos hoje perfeitos estranhos. Horas poderiam ser gastas falando sobre tudo que nos aconteceu, e não bastaria. A gente pensa que amizade é pra sempre, que, quando a gente for velhinho e lembrar tudo que aconteceu. Hoje, caminhamos na mesma direção; talvez juntos, mas afastados. Não poderia ser de outro modo. Jamais seria. Preferiria um mundo menos cinza, menos irônico e auto-defensivo. Só que não é uma questão de escolha. Nunca foi. Não brigamos, mas nos afastamos. Estranho ver alguém que, em certa época da vida, já foi confidente, de trocar segredos, e emprestar consciência. E hoje é um desconhecido. Alguém que já soube de minhas dores, risos e desamores, das minhas rimas cafonas, das inseguranças noturnas e paixões oblíquas. Como uma roupa usada, que ficou pequena ou gasta com o tempo: não cabe mais e tão pouco reconhecemos sua utilidade no presente, sequer há falta ou ausência latente – se houvesse, teria mantido junto, e não sumido. Mas já fez parte de alguma história, da minha vida. De mim.