Uma mesinha de canto em uma sala escura.... Alana Driziê

Uma mesinha de canto em uma sala escura. Ela entra, e percebe um brilho no cantinho da sala. Faz-se a luz, ela percebe um embrulho. Quem enviaria um presente naquele dia como qualquer outro, em que ela apenas fazia seu caminho de volta para seu refúgio? Quem se lembraria daquela menina que era como qualquer outra, cabelos e olhos escuros como a solidão?
Ela caminha pela sala, tentando desvendar tal mistério. Pensa em todas as pessoas com quem falou na semana, em todas as pessoas de quem se esquivou. Não demorou muito, já que ela passava tanto tempo recolhida em seus pensamentos, afastada de multidões. Nenhuma daquelas pessoas, pensou, teria lhe enviado tal surpresa. Os amigos já não mais eram próximos, o amor havia virado a esquina e procurado outros enamorados. Quem seria o misterioso ser amoroso a ponto de lembrar-se dela, a menina isolada de tudo a seu redor?
Chegou perto do embrulho, envolvida de emoções. Não sabia como reagir, o que haveria dentro daquele pacote tão brilhante e lindo. Tocou-o suavemente, para sentir a textura daquele brilho. Aumenta ainda mais seu encantamento, e ela percebe um envelope ao lado daquela beleza toda. Um envelope perfumado, azul, cheio de corações. Sua curiosidade chega ao ápice, e pode-se sentir a preciosidade que aquilo tudo havia trazido ao seu dia. Tamanha é sua ansiedade, que ela chega a rasgar parte do envelope, na ânsia por descobrir o que aquilo tudo significava. Dentro dele, havia um papel rabiscado de amor, dizendo “Tenho pensado muito em ti”, com aquela assinatura que ela há tanto não via.
Aquilo trouxe lágrimas a sua face. Ele. Ela sabia como havia sofrido desde a última vez que se viram. Imersa em pensamentos ela ficou, por alguns minutos. Lembrou-se, então, do embrulho, ainda intacto. Apressou-se em abri-lo, bisbilhotando logo o que chegava ao alcance de seus olhos. Mais brilho. Ela percebe, então, a fragilidade do presente. Um porta-retrato coberto de pedrinhas, que a lembravam daquele dia que passaram os dois embaixo do sol. O formato redondo a fez recordar aquela promessa de eternidade. A foto lá presente revelava como aqueles tempos eram belos, os dois rindo juntos sem temer a realidade.
Um sorriso escapou dos lábios dela. Aquilo era o bastante para seguir em frente. Finalmente ela conseguia encarar sua própria vida. Guardou seu presente naquele quartinho escuro em que vivia, local que logo se tornou claro e vivo. Pegou o telefone e discou aquele número que ela sabia de cor. Conversaram por horas, e cada minuto trazia uma lembrança alegre daquela vida compartilhada.
O tempo passou, ele sempre na memória dela, ela sempre na memória dele.
Nunca mais se viram.
Foram eternamente felizes.
(Brilho)