Creio eu que uma das maiores buscas... Camille Cardoso
Creio eu que uma das maiores buscas humanas é a busca pelo amor.
Cara-metade, tampa da panela, pé pro chinelo velho, metade da laranja - tanto faz o nome. As pessoas vivem em uma constante pocura por alguém que as complete.
Mas me pergunto: precisamos ser completados?
Digo: eu nasci sozinha, cresci sozinha, e antes de entrar nesse mundo "adulto" e nessa procura eu sempre estive sozinha. Tenho meus hábitos, meu modo de ver o mundo, minha forma de pensar, minhas manias, gírias, coisas.
Eu preciso então de alguém que me complete? Não me sinto vazia. Não sinto um buraco que precisa ser urgentemente preenchido.
Creio que grande parte das depressões e dos chocolates vendidos são fruto de uma busca pelo que não existe. Ou existe? É um assunto complexo, que carrega diversos modos de pensar e diversas opiniões.
O erro não estar em querer alguém que nos acrescente, nos faça rir, divida conosco um outro mundo e quem sabe até junte metade do seu mundo com o nosso, podendo formar um novo - eu quero isso. Quero ter alguém com quem eu divida experiências antigas, compartilhe as novas, conheça outras coisas que não fazem parte do meu cotidiano. Alguém que melhore meu mau-humor, faça desaparecer alguns defeitos e medos.
O erro estar no fato de necessitar dessa pessoa.
Você pode viver sozinho. É auto-suficiente e extremamente adaptável (como qualquer um da raça humana).
Olhar pro primeiro que lhe der um "boa noite" e já imaginá-lo dizendo "eu aceito" na frente de um padre idoso, é o erro.
O que deve ser entendido é que deve-se ter uma vida normal e tranquila, até encontrar essa pessoa. É como encontrar um bom amigo, leal e confiável. Alguns tem a sorte de encontrá-lo logo no começo, outros demoram anos e anos, alguns contam umas decepções até encontrar o fiel amigo. Assim é com o amor da sua vida. Ou melhor, os amores.
Sim, esse é outro erro. Em um mundo com sei lá quantas bilhões de pessoas, em centenas de países, milhares de estados, bilhões de cidade, você crê mesmo que só exista UM ser que te complete? Não, existem vários. Só na sua cidade garanto que mais de 10 (5 se for de interior).
As pessoas crêem ter encontrado O grande amor, e o agarram, o devoram com tanta fome que ele acaba por desgastar-se.
Garanto que se a maioria visse seu relacionamento como algo finito, e não vissem o fim como o ponto final de suas vidas, os romances dariam mais certo.
Não sou a favor da modernidade exacerbada, que prega que tenhamos uma lista de relacionamentos ao mesmo tempo. Não, eu gosto do romance. Rosas vermelhas e poemas. Gosto da fidelidade, do sabor de se entregar sinceramente a uma relação. O que eu quero dizer é que ninguém é "nosso", como também não somos de ninguém.
Você anda por aí e vê pessoas com a placa "aluga-se"? Não somos propriedades, e ver alguém como seu objeto é um dos maiores causadores das separações.
As pessoas querem tanto se manterem "presas", que têm atitudes absurdas. Duas são as mais comuns: acabou o relacionamento, ela/ele se prende ao outro. Recebe nãos e mais nãos, as vezes até grosserias, mas não larga. Quer porque quer aquilo pra si. Já nem pesa mais se vale a pena, se tem conserto, se um dia sequer aquilo foi perfeito. Fica cego. Luta, luta, luta, luta. Se impede de viver outras emoções, outras paixões, outras experiências. Ou então, mal disse adeus a um e já se vira: quem é o próximo?
Relacionamentos relâmpagos talvez sejam o mal do século no quesito romance.
Quando (ênfase exagerada no quando) passa de uma noite, o "amor" dura alguns meses e não mais que de repente, acaba. Luto? Depressão? Imagina. Dois dias (ou quem sabe uma semana) é tempo mais do que suficiente pra sofrer pelo grande amor perdido e se refazer. Vamos namorar outro!
E assim as pessoas vão se perdendo e buscando alguém pra se sentir seguro.
Se for pra ser assim, prefiro ser segura sozinha. (não é papo de solteira, não)
O que falta é isso: ver que cada um é capaz de ser feliz sozinho. A felicidade não vem de fora, ela está dentro de você e cabe a cada um aflorar a sua. O amor, o romance, é só um agregado.
Se você tem alguém, não considere ele "seu". Não o trate como uma propriedade, como se você tivesse pago um dinheiro alto e ele tivesse obrigação de te servir. Cuide do seu relacionamento, faça por onde ele se consolidar. Mas não tenha medo do fim. Não ache que sua vida vai acabar se um dia um dos dois pôr um fim na história.
Se você não tem ninguém, bem-vinda ao grupo! Ok, brincadeira. Mas não se desespere. Aproveite a vida de solteira. Saia, ría, conheça lugares novos. Sinta-se satisfeita com a sua própria companhia. E quando isso acontecer, quando você sentir que um romance seria apenas algo a mais, mas que você é auto-suficiente, eu tenho certeza que a pessoa certa vai aparecer.
E boa sorte pra quem ler isso!