Boneca de nada A tenção não para, As... Cléo Marçal

Boneca de nada

A tenção não para,

As horas vão e os dias passam,

mas a tenção não para...

Sinto que a força vai quebrando

destruindo os sonhos,

as idéias ficam longe, sem imaginação.

Procuro encontrar motivação, não há.

Procuro sentir razão, não encontro.

Procuro aquecer meus sentimentos por

todos os que convivem comigo, mas não...

Não sinto a falta, não sinto o sentir...

Porque?

Não sei dizer...

Não sei justificar...

Não sei explicar...

Não há o que falar.

Sei que não sou o que me sinto,

Sei que não sinto o que quero,

Sei que não há nada dentro de mim,

Não tenho órgãos, sou oca,

Não tenho preenchimentos,

Sou costurada em linha de ilusão...

Não sei se falo ou se ouço,

Minha história infinda,

minha ignorância infâme,

minha meia verdade,

minha vida sem tempo de validade...

Não sou fantasia,

mas também não sou realidade.

Sou apenas um nada,

Mas desse nada, me faço o tudo que sou.

Me procuro nas moléculas de polietileno,

Nas fibras do algodão,

Nos fios do nylon que recobrem

o inútil do gigantesco crânio,

Mas ainda assim, meu interior...

Meu vazio...um oco...espaços que

não se preenchem, respostas que não

explicam as perguntas que não se calam,

Imagens que não são vistas, memórias

que não vão ser registradas,

alma desencarnada, espírito que vagueia

sem saber onde será sua parada...

Sou eu...

Boneca de nada...