Retrovisor Ouvi dizer que não se... Aline Mariz
Retrovisor
Ouvi dizer que não se espera, que amor só vem quando bem quer e pouco importa o desejo de cada um. Mas é que às vezes, vira e mexe, você aparece de novo. Numa música, lembrança, foto, sei lá... qualquer coisa. Nunca esperei muito de você. Nunca sequer pude esperar nada. Foi tudo tão corrido, de um jeito tão bobo, e pronto: eu já queria poder te guardar nos meus braços. Para sempre, por algum momento, por um dia ou duas horas. Eu só queria ter te guardado um pouco. Eu quis te ter. Quis. E quis tanto, tanto, tanto. Mas você não quis que eu te quisesse. Não quis ver meu mundo, conhecer melhor o que se passava por dentro de mim ou tentar entender porque eu ia embora e acabava voltando atrás. Talvez você tenha tirado uma conclusão. Eu não. Nunca entendi muito bem porque tudo era tão rápido, que eu mal podia enxergar; era tão borrado, eu só conseguia ver você e mais nada. Não tinha razão. Sem sentido, só sentimento... eu nunca via a explicação.
Calo. Folha em branco. Cabeça vazia. Só consigo ouvir o meu coração bater. Oco. Um quase silêncio se instala do lado de dentro. Nada. Mas aí começa tudo de novo e lá vai minha cabeça com seus infinitos pensamentos e perguntas sem resposta.
Parece que tudo que existe faz questão de não ter sentido. Inclusive eu, você. Nós. Quis tanto que tivesse dado certo. Que tivesse dado em alguma coisa. Que você tivesse me mostrado seu horizonte, e eu, as cores do meu céu. Que você tivesse conhecido minhas músicas preferidas, e cantaríamos juntos, como se elas se tornassem suas também. Queria que você tivesse invadido ainda mais o meu espaço, sem licença nenhuma mesmo, eu não me importava: eu só queria que você ficasse. Mas você foi embora.
Lá fora, o tempo passa sem você. Retrovisores refletem os caminhos andados, o que ficou para trás. O meu retrovisor não passa nada, continua parado, no mesmo lugar. Eu, retrovisor, você, silêncio. Preciso ir embora.
No começo é assim. Pode durar mais, menos, muito, pouco, demais ou quase nada, mas passa. Aos poucos vou andando. Tento andar sempre, por mais que me doa ter que te deixar passos e mais passos atrás de mim. A gente tem que seguir. Devagar, ando. Meu retrovisor começa a te refletir no canto, lá longe. Dói. Mas vou.
A gente erra muito. Chora, se arrepende, machuca, faz drama, toma decisões erradas. Mas chega o dia em que a gente aprende a fazer uma coisa sensata. E faz, mesmo que seja só uma. É difícil, mas a gente tem que deixar o retrovisor refletir o passado. Já passou... a gente é que tem mania de não deixar passar.
Dói. Mas vou.