O Beija-flor Sem Beijos. (Parte I) - O... Bento Qasual

O Beija-flor Sem Beijos. (Parte I)
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O Beija-flor sem Beijos.

Num lugar muito distante, onde a civilização não alcançara, aonde os homens não chegara com suas serras e não haviam arranha-céus, havia um Beija-Flor chamado Boris.
Ao contrario de seus irmãos Boris não podia voar, suas asas foram arrancadas por uma bruxa má que se disfarçou de anjo e nunca mais pode sentir o vento em sua face e penas.
Sendo assim Boris estava condenado a beijar apenas as flores terrestres, onde seu bico e patas pudessem alcançar.
Um dia em seu passeio pela floresta Boris andando com suas patas curtas beijava as flores ao seu alcance, algumas delas cooperavam com a deficiência de Boris e se inclinavam até o seu bico para que pudessem dividir o pólen, mas Boris já estava cansado de ficar aprisionado naqueles pequenos metros quadrados que suas patas podiam andar ele queria voar como seus irmãos, conhecer toda aquela imensidão de floresta que ainda não tinha desvendado.
Nesse dia Boris resolveu ir mais além, até que suas patas não pudessem mais agüentar. Boris muito cansado não desistia de andar e vislumbrar tantas plantas e flores que ele jamais havia visto, todas aquelas árvores imensas que ele não poderia alcançar, mas que agradavam seus olhos. Foi quando Boris ouviu uma voz suave, gostosa, que o fez parar a sua jornada e procurar de onde vinha aquilo que mais parecia uma canção.
Boris viu uma pequena rosa branca no alto de uma montanha, sozinha ali sem nenhuma outra flor ou planta para lhe fazer companhia, a rosa chamava por ele:

- Oi passarinho, tudo bem?

- Oi rosa branca. Tudo bem e você?

- Bem, como pode ver poderia estar melhor, afinal não há ninguém aqui perto de mim.

Boris notou que ao lado da rosa branca só havia pedras e terra, mas nenhuma outra flor.

- E porque esta sozinha nessa montanha?

- Ora, eu nasci aqui neste lugar tão alto, os passarinhos nunca se arriscam a vir tão longe. Sendo assim não posso distribuir meu pólen sozinha para que minhas irmãs possam nascer perto e me fazer companhia.

- Eu sei como é ficar sozinho, imagino que deve ser bem triste ficar aí.

- É... Mas você pode voar até aqui e me dar um beijo, assim resolvemos esse problema. Qual o seu nome?

- Meu nome é Boris e o seu?

- Meu nome é Branca. Prazer em conhecê-lo.

- Muito prazer Branca, mas infelizmente não poderei te ajudar. Eu não tenho asas, não consigo chegar tão alto. Por isso estou andando desde muito longe para chegar aqui.

- Puxa! Um passarinho sem asas? Como isso pode acontecer?

Boris então contou a história da bruxa má para Branca que ficou comovida. Triste por Boris e triste por ela que continuaria sozinha ali. Mas Branca teve uma idéia:

- Sinto muito por não ajudá-la.

- Tudo bem Boris... Mas já que não pode voar você pode vir me visitar todos os dias, assim fazemos companhia um ao outro.

Boris ficou tão animado com a idéia, que contou histórias, fez piadas, cantou e tantas outras coisas que fez para animar o dia daquela rosa sozinha. Todos os dias Boris voltava para perto de Branca para animá-la e mesmo nos dias de chuva se protegia com as folhas secas caídas no chão, tudo para não abandonar Branca.


Boris assistia todos os dias seus irmãos planejando suas rotas para descobrir mais e mais flores novas que pudessem beijar, ele via tudo aquilo e ao invés de entristecer-se como antes só conseguia pensar em Branca. Claro que o fato de não poder aproximar-se, de não poder beijá-la o deixava triste, mas só o fato de ter alguém que o esperava, que contava com sua presença, ter alguém que tinha o dia mais feliz só pelo fato dele existir já fazia de Boris o passarinho sem asas mais feliz do mundo. Porém, ouvindo os planos de seus irmãos percebeu que todos estavam planejando voar em direção da montanha que Branca se encontrava.
Os corações dos beija-flores batem quinhentas vezes mais rápidos que os dos humanos, mas o coraçãozinho de Boris agora era ainda mais rápido que as asas que um dia pertenceram ao seu corpo.
Boris correu ao encontro de Branca, Boris corria, pulava, caia e levantava-se, mas nunca parava de prosseguir, ele tinha que chegar até Branca antes de seus irmãos ou perderia o grande amor de sua vida.
Finalmente Boris chegou até Branca e viu seu sorriso ao vê-lo de longe, mas Boris só se preocupava em subir a montanha, tentava e caia, tentava e caia.
Seus finos ossos já pediam descanso, a corrida, a escalada e as quedas o machucavam e nem mesmo os gritos de Branca para contê-lo adiantavam.

-Pare Boris, o que esta fazendo? Você vai se machucar...

Boris não ouvia, ele tentava subir a montanha e rolava para baixo. Suas patas eram pequenas demais, além de muito cansadas e agora machucadas.

Finalmente Boris esgotou-se.

-Boris! O que está acontecendo?

-Os outros... Os outros beija-flores estão vindo para cá. Logo chegarão até aqui e beijarão aquela que eu amo tanto e quero para mim.

-Mas o que te faz pensar que eu deixarei que outro pássaro além daquele que mesmo sem asas e mesmo sem beijos consegue manter-me viva, alegre e cheirosa? Mais do que qualquer outra flor desta floresta.

-Mas Branca, é a natureza das flores serem beijadas...

-Querido Boris, é a natureza dos pássaros baterem suas asas e voarem e mesmo assim eu o vejo todos os dias fazendo o mesmo caminho passando por rochas, espinhos e predadores para chegar até mim. Mesmo assim vejo-o depois de todo esse caminho árduo chegando até aqui de sorriso aberto e disposição para fazer-me rir.
Ora Boris, essa é de longe a maior prova de amor que qualquer pássaro poderia me dar, é melhor que qualquer beijo e sei que um dia, um dia você conseguirá subir até aqui e finalmente me dar o maior e melhor beijo que uma rosa poderia pedir ao Criador.

Bento.