Ele a olhou fixamente, sem nenhum... Amanda Lemos
Ele a olhou fixamente, sem nenhum declínio, como uma águia a reparar sua presa , como um fotógrafo a reparar seu modelo, como um artista a reparar sua arte. Se houvesse piscado os olhos, não o percebi, esplêndido. Parecia que se passara mais de horas só olhando, admirando não sei, mas de forma penetrante, envolvente, e esboçando um sorriso meio torto no rosto.
Ela um pouco envergonhada, não sabia o porque de tanta perfeição em um olhar, como se houvessem milhões de “fleches” e luzes penetrantes e reluzentes na sua direção. Nada. Só os olhos meio acinzentados dele. Mas se envergonhara sim, com uma feição meio distorcida e um pouco vermelha. Não agüentou e como um reflexo de tanta demora num só olhar, perguntou:
- Minha maquiagem borrou ? O que repara tanto em mim quando me olha ?
Ele não respondeu, não precisava. De tão sublime o momento ele se tornara indecifrável, enigmático. Mas como sentia a necessidade de dar uma explicação a ela, desabafou:
- Só mais um segundo, por favor.
Passaram-se os 60 milésimos de segundo.
- Pronto.
-Pronto o que ? Não me venha agora com tanto ar de deboche.
- Quisera eu ser apenas deboche, mas acabei de perceber nesses poucos instantes, que estou completamente, irresistivelmente, inexoravelmente, inexplicavelmente, paradoxalmente, perfeitamente, apaixonado por você.
Ela de forma estagnada, riu, sem saber a motivo, e pensara, “como um ser humano poderia se apaixonar por um olhar ? Impossível.”
- Não me faça rir senhor, apaixonado é palavra muito forte para se usar nesses momentos. Acho que ambos exageramos um pouco no drink de antes. Acabo de perceber que não é muito saudável e nem muito sóbrio misturar um black label com um Ballantines.
- O que preciso fazer para lhe provar que a recíproca é verdadeira ?
- Não é necessário provar nada quando se sabe de fatos, não conteste os fatos senhor, por favor.
- Se não se preza a acreditar, não acredite. Afinal de contas, quem se encontra em uma situação embaraçosa, sou eu. Meio bem, meio mal, não sei. Apaixonado sim. É um fato. E longe de mim contestar os fatos, como você mesmo o diz.
- Posso rir agora ? Meu Deus, acabamos de nos conhecer...
- E é por isso que já estou indo embora, só vou pegar meu casaco e pagar a conta.
- Horas, como assim ? Se diz apaixonado e me larga em um balcão do bar do James? Shakespeare não faria dessa maneira.
- Quem sou eu para me comparar com gênios, então se incomoda com a situação de eu partir de forma leviana ?
- Não se gabe e nem seja prepotente por isso, foi só maneira de dizer.
- Maneiras de dizer a parte, me encantaram. Me gabar ? Nada, prepotente? Nem chego perto. Mas tenho que ir sim, pois, parece que meu santo é fraco e toda vez que me dou o direito de me apaixonar por alguém, minha cabeça foge da lógica e meu coração força a dizer : “toma, é seu, faz o que quiser com ele”, e fazem.
De tanto mau uso dele, que chega a me dar dó de mim mesmo. Apesar que por um segundo cheguei a pensar que poderia ser diferente dessa vez, uma exceção. Mas, quisera eu, o homem ser feito apenas de exceções. Me desculpe, me permita ir. E eu honestamente, preciso de um cigarro agora, você não faz idéia de quão nervoso estou, com os nervos a flor da pele, e o coração quase saltando para fora. Poderia sair correndo a mil por hora de vergonha, ou pular de um arranha-céus com medo da sua resposta.
Preciso,no mínimo, de um “malboro" nesse instante,nesse minuto. Rimas ou sem elas, se não for pedir muito, eu preciso de um cinzeiro também, por favor.
Ela estava perplexa, muda. Parecia que agora era ela quem o admirava. Não por sua beleza apenas, mas pelo o seu modo, fora do peculiar, de falar. Por sua honestidade e franqueza distintas e um sorriso, por mais que torto, que não deixava dúvidas. Estaria ela apaixonada também ? Não., Isso pareceria meio filme de romance, um mero encontro ao acaso, uma coincidência fatal, ou a bobeira de um destino ludibrie. Não. Clichê piegas demais.
- Eu lhe peço que não vá, me dê ao menos, a oportunidade de conversarmos um pouco mais, esclarecer as dúvidas, colocar os pontos nos “is”. Estou de mãos atadas, não posso deixar você vim se declarar todo e lhe deixar partir bruscamente. Não. Fique.
-Ele ficou.-
Finais felizes tem sempre um final.
Eu não me permito a um final, deixe acontecer naturalmente, dê tempo ao tempo. Respeite o espaço do outro.
Não quer dizer que ela viria a se apaixonar por ele assim, de repente , incerto. Não.
Mas se houve a permissão de uma conversa, no mínimo, daí sim tudo pode acontecer. Só Deus sabe agora.
Deixe o processo fluir, sem pressões ou meio termos, talvez eles possam se dar o direito então a um final feliz, mas isso não cabe a mim que relato apenas, cabe a eles.
E de maneira pouco cabível e nada esclarecedora, eu encerro e coloco um ponto final por aqui. Um Adeus
breve.
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