De algum modo, é assim que eu comecei a... Eduarda Morgado
De algum modo, é assim que eu comecei a me sentir, sozinha. Não sei o que foi ou como foi, só sei que foi assim, sem mais nem menos, como se algo me engolisse eu não pude fazer nada. A vontade de chorar é como a vontade de comer, necessária. A vontade de desaparecer é como respirar, inevitável. Preciso desaparecer de mim mesma, não aguento nem mais me ouvir, nem chorando, nem falando, nem rindo, nem suspirando. Tomando remédios pra dormir, fumando um cigarro atrás do outro, estou mais pra uma criança que só berra por colo, estou me tornando inconveniente. Apenas um motivo me faz querer tentar estar bem, a minha garota. Mas eu sou um ser humano, não um peso, não posso jogar meus problemas e meus medo em cima de alguém, não posso correr pro colo dela sempre que eu precisar, não era assim que eu era, tão chata.
Não tem nada fazendo sentindo, além de tudo ter perdido a cor. É como se o único brilho do desenho da minha vida fosse ELA, é a luz que me guia, é o que tem me dado força. Mas quando estou sem? É como se eu já não pudesse andar sem tropeçar, como se o mundo resolvesse cair sobre mim, a escuridão me toma, a tristeza retorna e eu volto a chorar na solidão. É, solidão, eu que tanto tempo tentei fugir de você, acabou me pegando. Me deixa em paz, eu não aguento mais, eu quero sorrir, eu tenho um motivo pra ser feliz, me deixa ser, me deixa ir embora pro meu viver.
Não quero mais chorar, mas continuo chorando. Não penso na morte, mas às vezes nessas horas ela vem me chamar.