Por vezes tenho me recolocado em lugares... Itarcio A. L.
Por vezes tenho me recolocado em lugares imaginários, com um pouco de esforço e muito de lembranças. De olhos fechados é embassado, incerto como a imagem de uma TV falhando e as vezes não consigo ver nada ou o que vejo é tão pouco detalhado que assisto tanto até que minha mente preencha os espaços vazios entre uma cena e outra. Costuma ficar o som mesmo depois da imagem sumir, mas então inventar o visível é apenas questão de concentração.
O tempo passa, e isso chega a ser assustador, não poder impedi-lo, na imensidão do espaço não senti-lo, invisível que ainda assim leva milhões de momentos que eu agarraria se pudesse tocá-los. Procuro o consolo no físico evidente como um porto seguro. Mesmo mera representação psicológica de projeções, é o que acalma quando o interior é tão escuro e confuso, ter o que segurar ou a quem abraçar.
Não é difícil te achar em meio as palavras, mesmo quando quase não fazem muito sentido.
Recentemente imaginei um futuro construído sobre nossas maiores fragilidades, cercado de um orgulho próximo ao irracional. As feridas pararam de doer, mas nunca se cicatrizaram. Poderia ignorá-las como fazem, mas o incômodo de estarem abertas faz ser sensível a cada insignificância de detalhes, mas que juntos doem como se fossem idênticas às primeiras vezes.
Parece que vai ser sempre assim. A dor é consequência das memórias, e a tortura é quando posso estar mais perto de você. Voltei a estar perdido no mar e a vagar sem objetivo. Meu barco nunca se afunda prolongando essa história que comparo a um livro com trechos riscados e algumas páginas rasgadas.
Agora mais do que nunca duvido das razões pelas quais me levaram para longe, e tenho medo que essas perguntas sejam minhas companhias para todo os dias. Se eu me afogar nessa imensidão vou desejar mais ainda que tu esteja aqui, mesmo que seja apenas pra segurar minha mão.
Fazer trocas com o acaso, brincar de esconde-esconde com a sorte, pintar o céu com pincel sem tinta...
Pedimos tanto por um sentido e simplesmente o pisamos e o jogamos fora. Valeu a pena pra tu?