(...) Demorou um pouco, sim. Isso porque... Fernando Castro
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Demorou um pouco, sim. Isso porque ele pareceu parar para pensar por alguns poucos instantes que fossem - na pergunta que fizeram. Queriam saber se ele amava alguém. Ressaltaram a notória mudança entre textos de sua composição, chamados iniciais, que falavam tão claramente do amor e os mais atuais, que pareciam bem menos ligados a esse sentimento em especial.
_Eu não escolho o tema antes de escrever um texto. Dou à luz períodos frequentemente plenos de anomalias ideológicas exatamente da forma como eles inspiraram-se em mim. É desproposital como sentir sede... Acho que eu procurava muitas vezes o amor quando falava tão incansavelmente dele, como fazem esses religiosos que consagram cada dente de leite que cai ao seu Senhor. E eu achei, mas não por meio dessa busca vã e de seus atalhos desnorteados, atrasos disfaraçados. Se achei algo a que posso chamar de amor, foi muito mais por me deixar encontrar - despido de tudo o mais - do que por procurar. Quando canto com notas muito menos sentimentalistas, não é porque meu coração petrificou-se, mas sim porque derreteu de todo. Escrever é buscar a si e encontrar o outro. E foi por isso que fizemos tanto sucesso, nós, os escritores, quando a maioria das pessoas buscava coisas passíveis da estranheza geral. Agora, com a bizarra harmonia que existe na sociedade, as pessoas têm tantos objetivos em comum que o individualismo perdeu o seu significado e perdeu-se procurando significar. Por esses caminhos de busca ilusória onde ninguém mais costuma voltar agora que todos seguem a trilha.
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