Acreditei por tanto tempo no conceito de... Camila Campos
Acreditei por tanto tempo no conceito de que "mulher deve ser autossuficiente", ainda acredito, mas essa regra tem prazo de validade.
A sua vida anda chata, você não aguenta mais estudar, você não suporta olhar pra cara do seu chefe, você não quer mais a vida que sempre levou. Quase que lógico que ao chegar em casa o que você quer é alguém te esperando, pra te dar carinho e te fazer feliz. Pra, quem sabe, só poder estar contigo por duas horas na calçada da sua casa, as duas horas mais felizes do seu dia, tragicamente, as únicas que você sorriu com sinceridade.
Quando suas amigas estão solteiras, o dinheiro tá sobrando e a vida tá tranquila, nos declaramos autossuficientes, sim! Queremos curtir os dias sem a coleira, mas quando deitamos a cabeça no travesseiro, ela pira e os pensamentos vão de encontro a quem queremos e que, mal sabemos porquê, não está do nosso lado.
Ilusoriamente lembramos daquele perfume, sentimos aquele beijo, suspiramos com as palavras ao pé do ouvido e sim, estamos deitadas em nossas camas sozinhas, perdidas em noites, esperando que alguém se materialize a direita.
Eu saio de casa, maquiada e perfumada, decidida a mudar, e a mulher que volta pra casa se vê no espelho uma palhaça, que baixou a cabeça pra uns, foi alvo de outras, perdeu a força no bolso e quando foi procurar não estava mais lá.
E então, ridiculamente, finjo uma felicidade, me mostro sempre com bondade, alego que só quero amizade.
Chego nessa conclusão enquanto o ônibus me leva de volta pra casa, e quando desço, vejo você na minha calçada e me dou conta que, por pelo menos mais alguns minutos eu vou me render a minha fragilidade, pois se quando durmo não posso ter você ao meu lado, que seja assim: faz de conta que é errado!