Vivo vagando em pensamentos soltos, como... Renée Venâncio
Vivo vagando em pensamentos soltos, como se eu fosse uma folha flutuando aos sabores das ondas do mar. Em pensamentos eu viajo para lugares distantes, lugares em que eu nunca estive antes, mas que, em arrebatamento, eu sei que sempre poderei chegar.
Ao me lançar no plasma imaginário, eu percorro distâncias intransponíveis, visito planetas sem nome, seguro estrelas com as mãos e me liberto de tudo
que possa querer me caucionar.
Em pensamento eu me entrego ao acaso do tempo, não importa a hora e nem momento, sou eu quem demanda o exato instante de partir ou de chegar.
Estive caminhando sob um céu de nuvens cinzentas, nuvens que vertiam água em tormenta, chuva de cores que eu mesmo fiz questão de criar.
Tempestade morna que precipita pesada, mas quando cai sobre mim não molha nada, apenas empresta um brilho novo às belas meninas que dançam diante das lágrimas do meu olhar.
A chuva me alegra bem mais quando ela cai por inteira, mas se lá fora a garoa é tristeza, eu solto o meu pranto, me escondo num canto e me ponho a chorar.
Quero dias de sol e chuva no mesmo céu e no mesmo instante. Quero a visão de um arco-íris radiante se curvando no horizonte improvável do meu olhar.
Existem maravilhas irreais que se escondem atrás do meu ser verdadeiro, não é mentira e não é segredo, não é o que me move e nem o que me faz parar.
Sou um passageiro voluntário do pensamento livre, invento universos que não existem só para me abstrair do tédio do meu mundo que vive permanentemente em vias de se acabar.
Pensando eu me perco no ermo das horas, e ali adormeço até que um sonho qualquer venha sorrateiramente me roubar. É assim que eu enfrento as agruras das minhas jornadas, das profundezas abissais às alturas inominadas, pois qualquer lugar que a minha medíocre realidade não alcance, o meu pensamento incólume sempre haverá de me levar.