Porque este meu ser é de faca, mas... Kátia Sandrin
Porque este meu ser é de faca, mas também é de flor...
Nasci em Abril. Primavera da vida.
No hemisfério sul de Drummond a primeira flor não é Rosa ou Violeta. Não se abre na frágil delicadeza da Cereja.
Tem cor e cheiro de Laranja. Ácida e desbotada como a estação que é mais da alma que da natureza.
Cores sujas. Folhas secas. Frutas cítricas.
No hemisfério sul de Cecília há flor de laranjeira em decomposição. Branca, imaculada como a parte estragada de alguma coisa que sabe que é preciso se deixar cortar pra nascer de novo. Inteira.
Todas as Camélias de Abril já nascem no divã sazonal. Florescem entre safras.
Neuróticas e complexas como Woody, o Allen, que insiste em picar a alma até abrir um buraco nela. Análise duas vezes por semana. Dois psiquiatras diferentes.
(É preciso uma segunda opinião)
Duas estações.
Todas as camélias de Abril são guirlandas sobre o poço.
Seu ser é de faca, mas também é de flor.