Sem tempo nenhum, só primavera Quando... Aline Mariz

Sem tempo nenhum, só primavera


Quando olhei bem no fundo dos teus olhos, não acreditei no que eles me diziam. Eles nem sequer falavam nada; gritavam um adeus, sem um porquê ou alguma razão. Será que tudo isso aconteceu mesmo? Queria que você não tivesse ido embora... Às vezes imagino que você está atrás da porta, só esperando que eu volte pra me dizer coisas de amor.

Foste embora tão repentinamente que estranhei: ainda permaneces em mim. Teu cheiro, tua cor, teus olhos, tuas palavras sussurradas, tuas -nossas - músicas, tua voz, teu riso contagiante, tuas mentiras sinceras e histórias mal contadas... Porque não levaste os teus próprios pedaços? Já cansei de carregá-los pra qualquer lugar que vou.

Sabe-se lá porque que eu fui inventar de te fazer de abrigo. Eu sempre soube desse teu jeito desapegado de tudo, mas quem manda ter um coração cheio de defeito? Pedi pra trocarem assim que descobri o que havia de errado, mas me disseram que não tem garantia. Se quiser conserto, tem que esperar por alguém que queira fazê-lo. Mas quem? Parece que ninguém mais tem esse problema. Repito pro meu coração inúmeras vezes: "descansa, coração, descansa... amar não é pra você", mas ele não obedece, afinal, não seria agora que ele começaria a acatar minhas ordens. Ama desgovernado e não tem nada que o impeça quando ele realmente quer. Vai no compasso da dança que lhe convir - ou não -, e não escuta mais ninguém, só seu próprio som.

Fecho os olhos para deixar de pensar um pouco em ti e mesmo assim, só te vejo. Meu coração bate com teu som, e mesmo que eu não queira, cada palavra minha tem uma ponta tua. Cansei de tentar te evitar... Não me cures mais de você, só volta e fica ao lado meu. Recuperaremos o que foi perdido, dentro de nós só haverá primavera...


Quando voltares, meu bem, não haverá mais hora... O tempo esperará por nós, para guardar nosso momento, como se fosse uma caixa de lembranças.