Guardado Acho que solidão é uma... Aline Mariz
Guardado
Acho que solidão é uma palavra muito grande. Tão grande, que ela mesma se completa, e deixa os outros viverem nela. E por se completar, deixa os outros sós. E os outros, por sua vez, se calam.
E de tanto se calarem, as pessoas guardam coisas demais dentro de si. Guardam mágoas, sonhos contidos, ideias apagadas, sentimentos esquecidos... e palavras não ditas. E de tanto guardarem, acabam sem ter para quem desabafar depois.
As pessoas se esquecem de como é bom ter alguém para compartilhar a vida. De como é bom ter amigos. De como é bom sentir. De como é bom sorrir. De como é bom amar.
Escondem em si os seus sentimentos, e depois, não tem mais para quem dar. O tempo acaba, e tudo acabou ficando guardado. De que adiantou, afinal, ficar calado? Tudo virou sentimento engarrafado. E de que vale um sentimento engarrafado? Não vai dar para bebê-lo, muito menos sentí-lo. E mesmo que desse, nunca seria a mesma coisa. Sentimento só é bom quando se sente de verdade. E se esse sentimento for amor? aah, o amor! O amor é quando “o coração não quer mais sair de casa”... E a maior burrice é querer engarrafá-lo também.
As pessoas se esquecem do valor de um sorriso. Se esquecem que o sorriso é a ‘manifestação mais linda dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procurava’. Se esquecem que o sorriso pode curar feridas. Se esquecem que apenas um sorriso pode acabar com a solidão.
Acho que a solidão nos faz esquecer de muitas coisas importantes de tanto nos fazer guardar. “A solidão é uma ilha com saudade de barco”. É ela que faz com que nós queiramos parar o tempo.
E mesmo assim, mesmo nos fazendo guardar e esquecer, ainda é ela que nos faz querer falar. Ainda é ela que apesar de tudo, ainda nos faz querer viver tudo novamente. Ainda é ela que nos faz querer parar de parar no tempo. Ainda é ela que nos faz sentir saudade, e querer sentir a vida de novo. É ela que acaba fazendo com que a gente queira sentir as pessoas novamente.
E depois de tanto sofrer – de falar mal dela, e de derramar lágrimas -, acabamos agradecendo. Porque no final de tudo, foi ela que nos fez perceber o mundo que estava lá fora e que a gente já não percebia mais.
Foi ela que nos fez ver as cores novamente.