Amor de papel presente Tá pra nascer... Felippe Carotta
Amor de papel presente
Tá pra nascer alguém tão completo quanto Elisa Lucinda, atriz brasileira que também é cantora, professora e poetiza. Esta grande mulher tem a arte como sobrenome e já brilhou em novelas globais, como “Mulheres Apaixonadas” e “Páginas da Vida”, ambas escritas por Manoel Carlos, que é, na minha opinião, o maior autor de novelas da Teledramaturgia Brasileira.
A primeira vez que tive contato com a poesia de Elisa foi através do livro “Contos de vista”, lançado pela autora em 2004. Depois de ler esta obra, passei a tomar conhecimento de seus versos através da Internet, onde estava quando a inspiração para esta crônica me encontrou.
“De alguma maneira hoje / Quero sempre me casar com você... / Para mim este amor é diferente, não é de papel passado / É amor de papel presente”. Que tal se os casais, ao invés de assinarem somente as certidões no cartório, registrassem também o amor que os une por dentro, no olhar, todo dia?
Amor de papel presente é o que sobrevive do hoje, que não se projeta apenas no terreno incerto do amanhã, que não depende estritamente do passado para chegar ao futuro. Este tipo de amor se declara todos os dias: quando não é por uma carta, é por um abraço; quando não é por uma música, é por um silêncio; quando não é por um sim, é por um não. Amor de papel presente só vale no agora, só é passado quando já morreu.
O amor de papel presente não depende de testemunhas para ser formalizado, não depende dos outros para ser ele, não carece de um casamento para ser instituído. Está presente entre casais de namorados que se respeitam, entre amigos que se completam, entre pessoas que se unem em um contraponto. O amor de papel presente é escrito no coração, melhor folha para eternizar os sentimentos finitos que sentimos.
Saia já com esta caneta daqui! Para assinar o amor de papel presente usam-se os dias como ferramenta, o instante imediato como forma de garantia de que nada se perderá enquanto estiver sendo. O amor de papel presente sobrevive do que se tem, sem prometer para amanhã o afeto que só pode ser garantido hoje, sem deixar para depois os sonhos que só podem ser realizados agora.
Elisa Lucinda tem razão quando afirma em sua poesia que deseja se casar cotidianamente com a mesma pessoa, que não quer enferrujar com a rotina, que não quer subir ao altar apenas quando estiver na igreja. Milhares de casais matam o amor que sentem todos os dias porque se aprisionam às convenções, porque se acomodam nas formalidades, porque se esquecem dos detalhes. Vivem das lembranças do que foram um dia e se esquecem do que ainda podem ser agora.
Amor diferente, o de papel presente, vale mais porque dura enquanto o hoje é suficientemente eterno até o amanhã chegar.