Um traço que não se completa Não... Alexandru Solomon esritor
Um traço que não se completa
Não precisa ser das trevas testemunha ou rival.
O seu caminhar na folha o comprime, o esconde
Na procura desvairada do mas como? Quando? Onde?
Pode ser que sua busca se complete afinal.
No começo foi guiado e submisso se manteve,
Ignorando a espera que apenas alucina.
Foi preciso mais de um sonho, foi um rosto de menina,
Para que o sofrimento se derreta como neve.
Escorado na memória, percorreu desfiladeiros
Onde o monstro esquecimento encolhia-lhe o passo.
Para a alma apaixonada o talento foi escasso.
Foi no choro, no soluço, encontrar seus companheiros.
Prisioneiro de um gesto ou refém de uma saudade,
Assumiu o compromisso de fazer jorrar do nada
O mistério aveludado das feições da amada,
Pois no sonho se confundem a mentira e a verdade.
Hesitante no percurso, feito barco à deriva,
Foi dos olhos presa fácil, resistência abandonando.
O mistério, o sofrimento, por ainda estar amando,
Mantiveram ilusória a imagem sempre viva.
Que importa o trajeto quando arde na lembrança
A fogueira esfomeada de anseio e acalanto
A mistura de magia devaneo e espanto
Que ao projetar a alma, esqueceu a semelhança?
Nota do editor: O poeta nos oferta sua mensagem por meio de versos sensíveis, participantes e abertos à porosidade de um mundo atroz que nos circunda.
*Do livro ´´Desespero Provisório`, Editora Edicon.