...o que muita gente não entende é que... Laura Pedrosa
...o que muita gente não entende é que para que exista começo e recomeço são necessários fins. Eu costumo ser sempre muito otimista, não enxergar tudo aos avessos ao redor - deve ser um defeito - então, eu me habituei a quebrar a cara em seguida e tentar me reerguer à medida que o tempo fosse passando. Leva um tempo para você enxugar as lágrimas, e levantar com a cabeça erguida, talvez você até precise de alguém, mas nessas horas muita gente some da nossa vista. Então, você continua ali, perdido. Passei muito tempo respirando e pensando, muita coisa passou, muita coisa sumiu - eu não senti. Tive vícios bobos, dormi muito, perdi minhas noites assistindo os seriados americanos que nunca imaginei ver na vida, criei manias esquisitas, aprendi a sorrir quando quem se esforçou para me ajudar a sorrir já havia ido embora triste por não vencer o desafio de me dar uma gota de felicidade. Ignorei muitos, amei poucos e ainda sim não dei a atenção que todos desejavam, não pude ser mais falsa, não pude ser mais sincera, não pude ser mais exposta ou tímida, não pude ser mais responsável, ou ter dado mais carinho. Exigi de muitos e a vida me exigiu mais ainda, eu não soube administrar minhas emoções, não soube me portar. Criei expectativas idiotas e metas que já não me fazem o mínimo sentido, inverti os lados da moeda para simplesmente me sentir bem e pensar que fazia algo digno. Eu chutei o balde, caí, tropecei nos pés de vários, esbarrei em alguns e no fim também tropecei nos meus próprios pés. Andei sozinha no meio da noite, para me sentir livre, fiquei sentada no banco da praça esperando o sol ir embora, saí na chuva para esquecer de pensar, e chorar. Senti a vida se espedaçar entre os meus dedos e não poder fazer nada. Joguei tudo num canto qualquer, chorei, perdi os sentidos, me envolvi com pessoas erradas, me recompus, corri pros braços de alguém que um dia me ajudou e agradeço até hoje. Decepcionei-me com a maioria das pessoas que passaram na minha vida, e talvez tenha as decepcionado mais ainda. Perdi contatos importantes da minha agenda, acabei com a minha organização...
Tive medo do escuro, dormi de luz acessa a noite inteira. Não quis encarar meu futuro e dei passos para trás, chorei quando achei que já haviam secado todas as lágrimas, sorri quando achei que seria incapaz de sorrir novamente, fiz coisas inusitadas com pessoas estranhas, esqueci por alguns minutos de problemas de uma vida inteira. Ajudei pessoas que não tinham importância para mim, enquanto outras que eram tudo para mim iam embora sem que eu notasse ou pudesse fazer algo para reverter a situação; perdi muitos e me culpo por tudo ou da maior parte de tudo. Fiz novos amigos, e os abandonei na mesma velocidade com que os encontrei. Corri para os braços dos meus pais quando fiz algo errado e não pude me perdoar sozinha, chorei lendo livros e ouvindo a maior parte das músicas que hoje ainda ouço. Me isolei, me machuquei, abri feridas que já haviam sido cicatrizadas, fiz novas cicatrizes e ainda continuo de pé, depois de muitos tombos.
Abracei estranhos, com medo de conhecidos. Esqueci de muitos. Encontrei em outros tudo, novamente. Sorri, e os perdi da mesma forma; não é algo com que você se habitue, mas a vida nos impõe de tudo e nós temos que perder o medo.
Cresci na medida que os sonhos sumiam e se renovavam, me mudei, achei um refugio tranqüilo que hoje só me causa estresse, tive problemas com hábitos nada sadios, tive problemas com mais estresse...