TEMORES DA NOITE É uma hora da manhã,... Marcela Melo
TEMORES DA NOITE
É uma hora da manhã, cheguei a pouco e me sinto suja, não tenho coragem de conversar com Deus e todo o meu esforço foi jogado no lixo.
É sempre assim, eu fecho os olhos e não vejo.
Não vejo uma saída, não vejo uma solução.
Mais uma vez eu quero acabar com minha vida, sozinha, perdida... Mas também me falta coragem.
Todos os meus sonhos e planos se perdem, de novo, não há nada que eu possa fazer.
É sempre a mesma coisa, a história se repete, não há nada de novo, só os mesmos erros medíocres.
Eu ouço uma canção que me faz querer sumir, não há ninguém pra conversar, nem um amigo, e mais uma noite longa pra sobreviver.
Na minha boca tem o gosto dos meus pecados, e sinto todo o inferno rindo de mim, dizendo que mais uma vez ele me venceu e me fez tropeçar, no mesmo lugar...
Minha alma sangra pelos meus olhos, eu queria fugir, mas pra qualquer lugar que eu vou eu os sinto perto de mim, e tenho medo.
E eu quase me rendo aos seus encantos, quase me jogo nesse abismo pra não ouvi mais, pra não sentir esse desespero me convencendo.
Mas algo me agarra e não sei o que é...
Ah! Como eu queria que isso me deixasse cair de vez, pra nunca mais sentir, no meio da noite escura.
Quando olho para um canto e sei que ele está lá, mesmo não vendo, eu posso sentir seu hálito gelado e sua gargalhada fétida, zombando de mim e me dizendo que mais uma vez eu perdi meu tempo,
Não consegui...
Eu não consegui e não vou consegui nunca.
Quem eu penso que sou pra ousar sonhar desse jeito, quem sou eu pra imaginar que eu poderia conseguir, não, eu não posso!
E não adianta me iludir, não adianta ter esperança porque a esperança é ingrata e só faz a perda ser ainda maior, pra que tentar... Pra que?
O cheiro da mentira exala da minha pele e as horas passam.
Cada segundo o medo se entranha em mim, e não adianta fechar os olhos, não adianta acender as luzes, a escuridão vem de dento pra fora.
Vem na letra desta canção idiota, trazendo lembranças que eu prefiro esquecer.
E eles continuam aqui incitando minha covardia, ocultos pela sua capa de veludo cinzento,
Se aproximando cada segundo, dominado todos os pensamentos, e agora, já não é a dor, mas o medo que me impede de fechar os olhos,
O medo e a vergonha que me domina, que me consome e me sustenta!
Escrito em 08/04/2009