Eu não sei como tudo aconteceu,... Eliane azevedo

Eu não sei como tudo aconteceu, tampouco quando começou a acontecer. Sei apenas que minha razão, em alguns segundos, sobrepôs-se ao meu coração, e, exatamente nesse pulsar do tempo, eu decidi aceitar o que gritava aos meus olhos. Então, despi-me de você. Não somente da roupa, mas do cheiro, do toque, da voz, da ausência, da presença, enfim, fiquei nua de você. E agora é assim que vou à rua. É assim que fico sozinha, quando estou sozinha. É assim que vou à vida. Vida que um dia eu sonhei contigo, mas por motivos irrelevantes (não para mim), quase me levaram à morte. Por isso decidi viver, ainda que para isso eu saiba que pedaços desse amor continuam jogados pelas mesmas Champs-Élysées e sarjetas que costumávamos passar. Porque era assim, não era? Com você, eu ia do luxo ao lixo, da alegria à tristeza, do prazer à dor, da dor à cura, da cura à loucura, da loucura à sensatez, do céu ao inferno, mas eu ia. Simplesmente ia. Ia a qualquer lugar do mundo porque você estaria lá. Agora não quero mais ir. Agora eu quero ficar. Ficar bem aqui, quietinha, enquanto lá se vão nossos planos, enquanto lá se vai a minha antiga pele, aquela que você tocou. Pouco a pouco também lá se vai a sua imagem se esvaindo da minha mente, juntando-se a esse amor espalhado por aí, quebrado, maltratado e perdido em vias que não se cruzam mais. Amor que eu não quero mais sentir, embora não tenha desistido de amar alguém que não me obrigue a atirar pela janela lembranças de amor na solitária tentativa de me fazer inteira mais uma vez.