Quando eu quero falar silenciosamente... Renée Venâncio
Quando eu quero falar silenciosamente comigo mesmo, eu desligo a TV, tiro o telefone do gancho, deito no chão da sala e fico olhando o vazio que se instala à minha volta. Neste ritual, que é só meu, é como se eu me alimentasse de pensamentos crus, numa espécie de banquete antropofágico onde eu devoro as minhas idéias mais absurdas com a máxima calma e ternura. Só assim eu consigo degustar o verdadeiro sabor dessa vida tão corrida e que se esvai aos poucos com a enxurrada do tempo.
Sempre que posso, eu me reservo alguns momentos de solidão para que eu possa refletir friamente sobre os meus atos e o meu modo de encarar a vida. Esse momento de reflexão pessoal é uma forma de exercitar sentimentos que existem dentro de mim, mas que foram atrofiados pela falta de uso. Fazer uma auto-crítica de tempos em tempos é uma forma voluntária que eu encontrei para tentar aperfeiçoar o homem que eu sou e o mundo em que vivo. Eu vivo melhor quando eu penso na vida e me antecipo aos meus passos. O pensamento é fonte de lucidez e de compreensão. O pensamento é o elo que une a quietude da minha alma imortal a este mundo decadente que só sabe exaltar a morte.
Por mais que viver seja uma árdua empreitada, sempre haverá um caminho que me leve à solução dos problemas que afligem os meus dias e noites. Por mais intensa que seja a escuridão que esconde o chão dos meus passos, o simples ato de me preocupar em relembrar o passado e vislumbrar o futuro, serve para que eu possa manter acesas as luzes que iluminam a atmosfera dos meus melhores dias. Porque o pensamento é o prenúncio de todas as minhas razões. Porque as minhas razões só vêm à tona depois que o meu pensamento reconhece a origem e o destino de suas verdadeiras intenções.
Ao mesmo tempo em que o pensamento é uma porta de entrada para o autoconhecimento, ele também é uma porta de saída para essa estupidez mórbida que ousa contrariar a inteligência dos homens e que insiste em querer minar o amor entre as pessoas. Pensar oxigena o espírito, dá asas ao coração e enche a nossa vida de motivos para seguirmos em frente sem jamais esquecer que ser feliz, mais do que uma obra feita por nossas mãos, é uma conquista silenciosa do nosso pensamento.