Por vezes, pensamos ser doces,... Ana Luíza Kaminski

Por vezes, pensamos
ser doces, desejáveis,
delicadas e estáveis
ou cremos ser o sonho
secreto de alguém...
Tentamos acertar o alvo
o centro do caracol
o buraco-negro do sonho
o lumiar do farol...
Sentimos alegria e leveza
e vemos asas fulgurantes
estrelas na alma amada
cuja configuração cintilante
é cosmo complexo e vicejante
que nos encanta e atrai...
Contudo, noutro instante,
rodopiamos, vacilamos
em volta do vórtice abissal...
Giramos e vamos ao fundo
do mar ou do mundo
se nos desdenha ou repele
este amor, num segundo...
Ou nos fechamos em concha
ao falhar e nos ferir
na tentativa vã e insistente
de compreender tal alma amada
tão benquista e desejada
em nosso íntimo universo...
Porém, de salto em salto, de vôo em vôo,
de queda em queda, ou tropeço em tropeço,
de tempos em tempos ou no vaivém dos ventos,
da tempestade à bonança, no balanço ou recomeço
às vezes nos surpreendemos com uma brisa imprevista
ao sermos chamadas, mais uma vez acolhidas
pela alma azul-lilás tão querida e mutante,
ornada por caracóis, protegida por espinhos,
coberta por líquens e anzóis,
enfeitada por sóis marinhos...
E então nos vemos no vértice,
no centro dos redemoinhos,
na dança das espirais
nos recônditos submersos
suspiros, sonhos e versos
entre conchas e coxas
a caminho de Vênus
nos paraísos siderais!...
Da imensidão celestial
os astros nos contemplam
sorridentes, complacentes
divertindo-se às custas
da poeira cósmica pulsante,
que vibra, chora, canta e ri,
destas partículas que somos
plenas de apetite e desejo,
de idiossincrasias e medos
de mistérios insondáveis
de fantasias e segredos
quase invisíveis mas duráveis...