E diante do tão aconchegante e... Bruna Bergamo

E diante do tão aconchegante e tranquilo silêncio, volto a ouvir, novamente, aqueles sussurros, que de leve, invadem o meu intimo. Transformando assim, aquilo que nem eu mesma pude identificar a sua real serventia, em pequenas ruínas de existência.
Com os olhos fechados tento ver o que eu apenas posso sentir através das escuras e sombrias pálpebras. Que me transportam para algum lugar entre a multidão. E através do nada em meu interior, por descuido, encontro o tudo.
Ao abrir os olhos, percebo que aquele sussurro era, de fato, o seu sussurro. Aclamando o meu nome em meio à tão tumultuada e confusa, multidão de vozes gritantes.
Tento mais vezes lhe encontrar, porém, os meus olhos não veem nada além da escuridão e do silencio. Me movo de lugar, saio para fora, cheiro o seu perfume em meu travesseiro. Mas nada. Ele sumiu, foi embora e eu nem pude responder o seu aclamo.
Me sinto uma fracassada, procurando a morte a cada segundo, a cada passo...
Dias se passam e horas também, e então, como se fosse a última vez que pudera sentir meus cílios se movendo, fecho meus olhos. Deixando para trás tudo que me fazia feliz e levando apenas memórias incrustadas em minha mente, com uma leve brisa de tristeza envolvendo meu corpo.
Saio perambulando em caminhos distantes, como se eu não existisse. O tempo não passa. Não encontro nada, além da duvida. A tão cruel e dolorosa dúvida.
Sento-me no chão, pouso meus braços sobre minhas pernas, tento dar vida às lágrimas. Mas elas não surgem, trazendo de volta apenas o pânico do silêncio. Do tão aconchegante e tranquilo silêncio.
Sem sentir nada, além da tristeza, fecho novamente meus olhos, como se eles fossem uma passagem para o infinito. E outra vez do nada em meu interior, no mais profundo descuido, encontro o tudo.
A sua voz doce e macia sussurrando em minha mente. Levitando-me no azul do céu, tão claro como a cor de seus olhos... Tudo estava perfeito, mas era necessário voltar a mim mesma.
Ao abrir novamente meus olhos, fecho-os no mesmo instante.
O suor invisível percorre meu corpo...
Será que ele realmente voltou para me buscar?
Não. Ele não voltou. Eu que fui até ele. Deixando tudo e todos para trás, até mesmo minha vida. A tão longa e passageira vida.