Havia numa aldeia o filho de um... Linartt Vieira
Havia numa aldeia o filho de um comerciante chamado Jirnadama, que depois de despender loucamente toda a sua fortuna pensou em ir para outro lugar.
Porque bem se diz que:
“Não tem dignidade aquele que, tendo gozado de toda sorte de satisfação em sua aldeia e em seu país enquanto foi rico, nela ou nele continua de arruinado”.
Tinha o rapaz, em sua casa, uma grande balança de ferro que seus antepassados haviam comprado. Ao partir, deixou-a depositada na casa de um comerciante e tomou o caminho de outro país. Durante muito tempo viajou por estranhas terras, e quando regressou à sua aldeia procurou o depositário da balança, perguntou-lhe:
- Queres dar-me a balança que deixei em tua casa?
O outro respondeu:
- Tua balança já não existe. Os ratos comeram-na.
Jirnadama comentou, então:
- Se foi assim, não tens culpa. Tal é o mundo: aqui nada existe que seja eterno. Vou tomar banho no rio; deixa que teu filho venha comigo para ajuda-me a levar os utensílios de banho.
O depositário, temendo algo por parte do outro, disse a seu filho:
- Querido, teu tio vai banhar-se no rio. Acompanha-o para levar-lhe os utensílios.
O menino pegou os objetos que devia levar e acompanhou o recém-chegado. Feito isso, Jirnadama, depois de banha-se, fechou o menino numa gruta que havia junto do rio, cobrindo a entrada com uma grande pedra. Então voltando correndo para casa, onde o comerciante, ao vê-lo só, exclamou:
- Onde está meu filho?
- Um Falcão carregou-o da beira do rio – respondeu o outro.
- Embusteiro! – disse o depositário. – Como pode um falcão carregar um menino? Responde-me e devolve-me meu filho, do contrario irei denunciar-te à Justiça.
Disse o outro:
- É verdade: se os falcões não podem carregar um menino, também os ratos não podem comer uma grande balança de ferro. Devolva-me pois, a minha balança em troca de teu filho.
Assim disputando, chegaram à Casa da Justiça, onde o depositário bradou a altas vozes:
- Um crime! Um crime! Este ladrão roubou meu filho!
Então os juízes disseram a Jirnadama:
- Devolve o filho deste homem.
- Mas como posso fazer tal coisa? Um Falcão carregou levou-o da beira do rio.
Ao ouvir aquilo os juízes bradaram:
- Não dizes a verdade! Como pode um falcão carregar um menino?
E Jirnadama disse:
- Senhores, ouvi o que vou dizer: Onde os ratos comem uma balança de mil libras de ferro, que há de estranho no fato de um falcão levar consigo um menino?