Sinto vontade de escrever. Só que mais... Tiago Landeira
Sinto vontade de escrever.
Só que mais ainda, vontade de ter palavras certas. Só vontade.
Sei que não funciona assim, mas me contento em ter um foco que me dá sempre o ponto de partida - Escrevo pra mim e não só pensando em mim, mas seguramente é pra mim.
Vou jogar as que me chegarem primeiro. No fim vejo o que se aproveita dentro dessa acelerada vontade. E que querer acertar as palavras não me atrapalhe.
Pensei sobre Deus e como me veio sendo apresentado de várias formas sempre tão bonitas. Concebo que sou um ser humano de uma espiritualidade autêntica, sem pretensões de convencimento alheio... Só me cai bem a idéia de que limitar o pensamento não vem de deus, seja lá de que forma isso se externe. Me dói a falta de compreensão de quem quer que seja, sendo o ser humano tão rico nas suas variações, é meio cruel forçar alguém a se parecer com outro. Diretamente ou não, as palavras que acabam com o bom humor ainda me arrasam. Diretamente ou não, as palavras que desestabilizam a consideração e o respeito me acabam mais ainda.
- Espere, quero mais suco. É cajá!
Acredito ser inútil tentar esquecer amores. Amor é como cicatriz. Alguns ficam tão bem guardados que de tão escondidos podem não ser mais encontrados. São perdidos, não esquecidos.
Ainda acho a natureza a maior das vítimas. Nela a dor é constante, a morte é excessiva e regida pela incoerência de não nos sentirmos parte dela. Ela não revida.
Falo muito sobre o amor e sobre a vida. Acredito que estão intrínsecos na existência. Existo logo amo, logo vivo... Tudo acontecendo ao mesmo tempo como numa trindade.
Defeito, um atributo como é a virtude. Tem que vir no pacote. Acomodação, soberba, egoísmo, incompreensão... Em alguma dose vamos receber sem escolha. Podem ser tão constantes como a respiração, ou esporádicos como o espirro, mas sempre aparecem. Posso alimentá-los ou subtraí-los, mas isso é outra questão.
Música. Representa tanto. É uma bandeira no meu coração. Mesmo no silêncio, onde se esconde tanta força. É a coisa mais mágica que eu descobri até aqui.
Acho solidão um teste maravilhoso de liberdade. Saber estar só é não se limitar a estar sempre acompanhado e onde dá pra conhecer melhor alguém que quase nunca está presente. Eu mesmo.
Amo risada solta por me sacudir e tirar a poeira da alma, amo vento e luz por me levar um pouco pra fora da realidade como outra experiência mágica, amo descobertas por ser ali, de repente, o que faltava.
Viajar... Encomenda desejos, realiza-se sonhos de uma vida inteira, aproxima-se do desconhecido, onde se pode encontrar com as lembranças. Revela minha curiosidade. Me entrega a estranhos. Em outro lugar, soam diferentes palavras na minha voz, permito-me de outro modo, misturo coisas que levo e trago. É o que vai me ampliar entre sabores e crenças, surpresas, modos... O novo, as voltas, o vôo.
Não sei me vingar e não me esforço em aprender por não gostar. Penso ser covarde não por me faltar coragem, mas principalmente por me omitir. Não gosto de pensar como seria se tivesse feito diferente algo que passou. Prefiro constantemente esclarecer meus sentimentos no presente pra não precisar dizer – E se...
Me julgo incapaz de muitas coisas, não por não saber o que se passa, mas por considerar estar fora do meu controle físico e mental.
Acho que já deveria ter uma máquina de fotografias. Ter meu carro. E minha casa.
Também acho delicioso, ser fotografado, pegar carona e morar com minha vó.
Não sei o que pensar sobre o futuro, só tenho a brilhante sensação de que vai ser bom e vai me bastar.
No momento não quero parar de escrever. Mas isso também é só uma vontade.