1. Nariz de Palhaço(narrado em primeira... Gabriel Ávila Costa
1. Nariz de Palhaço(narrado em primeira pessoa)
“Não é a primeira vez que isso me ocorre. Pois é, outras vezes já aconteceram. Sei lá, mas não sei por quê tenho a mania de colocar defeito em tudo, em todos. Achar que qualquer coisa ou mesmo qualquer pessoa pode ter más intenções.
Não sei também se é essa fase que estou passando, meio violenta, conturbada, agitada... Nem faço idéia, mas algumas coisas estranhas começaram á acontecer e de uma coisa eu tenho certeza: Não foi impressão!
Eu pensava assim há duas semanas: Podem ser as brigas em casa, os dilemas com os garotos (ah os garotos...) as notas quase vermelhas, ou até as responsabilidades que ganhei após os meus quinze anos. Mas de fato, figuras estranhas apareceram na escola, mas não é a hora de contar sobre elas...
Antes devo confessar que sempre gostei de ler, só que romances para jovens, e depois que eu lia algo, ou ouvia e assistia, algo que me interessasse, eu corria e desenhava e sempre guardava em uma pasta, que hoje nem sei mais onde está. Como sempre, rodeada de amigos e amigas, nem todos esses eu sei que são verdadeiros, mas foi num dia desses que fui me aventurar neste episódio crepitante da minha vida, acredite se quiser.
Antes de qualquer coisa, prazer, me chamo Dayane e estava indo fazer um trabalho na casa de uma amiga. Só de pensar em subir todo aquele morro me dava preguiça, mas o meu interesse mesmo, era em ver como era o quarto dela... Como Mariana dizia, era recheado de livros, de pôsteres e ela podia abusar da internet. Era naquele dia que eu iria sentir minha juventude. Ando meio rebelde eu sei, mas é normal, logo passa... Mas também sei ser muito amável e olhe que todos dizem que dou bons conselhos, que infelizmente não sei eu propriamente segui-los.
Mas então, subimos toda a aquela rua conversando sobre as tarefas da noite, sobre os compromissos do dia seguinte, sobre os garotos da nossa banda favorita e esquematizamos nossa tarde, pois estudo de manhã, e se quiser me visitar, aparece por lá no colégio João Guidotti! [...] Voltando a nossa caminhada, passamos por uma praça linda e bem naquela praça que meu coração começou a mudar o ritmo de seus batimentos, até hoje... Ouvi um anúncio (sabe aquelas caminhonetes que anunciam?) sobre um circo novo na cidade, coisa que é comum por aqui, pois sempre vêm um ou outro. Só que aquele sotaque do locutor da propaganda era diferente, atraía, e o anúncio gritava que era um dos melhores espetáculos da América Latina, que encantou mais de milhões de pessoas. O rumo da conversa minha e da Mari, (como todos a chamam) havia mudado, já estava pensando quando iríamos assistir á esse espetáculo.
Não gosto muito de circos, são meio claustrofóbicos, mas aquele anúncio me atraiu por algum motivo. E minha amiga detestava as palhaçadas dos artistas: ela achava que nada era como antigamente, nada tinha mais graça.
Tudo bem... Passou aquele momento de alucinação e empolgação circense e voltamos a conversar, na verdade paramos em uma banca de jornal para comprar mais uma revistinha teen, daquelas baratinhas onde fazemos testes. Lá encontramos outra colega, que por sinal estava ajudando o dono da banca a organizar uns jornais, afinal, ela iria tirar uns trocadinhos dali. Papeamos por alguns segundos, ela nos mostrou novidades na banca e disse para marcarmos um dia para ir á casa dela... Complementou dizendo que nem sempre nos falávamos, pois estávamos em salas diferentes, mas na verdade nos conhecíamos muito bem, por vista, e cumprimentos e até por um ou dois anos atrás, quando ainda nos considerávamos crianças, estudamos juntas e até viajamos uma ao lado da outra na excursão de fim de ano... Mas a vida é assim, ás vezes nos distancia das pessoas e nos dá um choque de memória. Paramos por ali, nos despedimos de Tainá e atravessamos à extensa e incansável avenida. Subimos e transpiramos mais um pouco até chegarmos a frente a um suntuoso prédio.
Era no sexto andar o apartamento de Mariana, e para nossa sorte, o elevador tinha acabado de quebrar. Disseram na portaria, que já haviam providenciado assistência e tivemos que subir aquelas longas e cansativas escadas espirais. Cheguei parecendo uma bêbada em sua casa. Ela já estava acostumada, me acomodou no sofá e me serviu um copo de água, que a essas alturas se tornava uma divindade para mim. Depois fomos pro seu quarto e qual não foi minha surpresa? O quarto dela era totalmente incrível, eu poderia dizer, mas era comum aos outros, até dormia com o irmão. Seus pôsteres eram dez por dez e sua máquina era um pouco ultrapassada. Mas, outra vez, tudo bem!
Ela se sentou na cama, que rangia de vez em quando, e se tornava ensurdecedor e incomodante, e começou a separar umas folhas de lições que havíamos de fazer. Abria as argolas do fichário e aquilo ecoava nos meus miolos... Com um morro de livros e tarefas acomodados num banquinho, no canto da cama, nos sentamos frente ao seu computador, que depois de quinze minutos ficou totalmente acessível á internet. Pesquisamos sobre doenças e viroses, um tema chato de trabalho mas valia dez, então iríamos nos esforçar...
As horas passaram, aliás, já observou como as horas passam rápido? Principalmente se estamos em frente ao computador!
A fome bateu e ouvimos nossas barrigas grunhir, como se tivéssemos um bebê alienígena nelas. Nossos olhares se cruzaram, e subitamente, ela se levantou e disse que iria preparar um lanchinho para nós.
Saiu e encostou o quarto. Era um dia daqueles, calorentos e chatos... Resolvi ligar o ventilador que fazia com que a luz oscilasse de cinco em cinco minutos, mas outra vez, o entediante TUDO BEM, aparece!
Resolvi xeretar um pouquinho no histórico da internet, sabe o quanto eu sou curiosa. Encontrei muitos registros de bate papo e sites desinteressantes, até um endereço ou outro de sites “proibidos” (se é que me compreende) que obviamente seu irmão acessava. Foi bem de repente que a luz se apagou e me assustei. Nem sei em que cliquei, mas todos os sites desapareceram e a tela do computador começou a piscar também... Descobri que estava tendo uma queda de energia.
Ouvi a campainha e um grito, abri a porta e gelei meu coração. Minhas pernas bambolearam e fui até a cozinha. Não era nada – ainda! – Mariana gritava lá fora que já voltaria, só iria receber umas correspondências, e frisou que eu não deveria mexer me nada, principalmente em seu macarrão instantâneo.
Voltei pro quarto, e percebi que a eletricidade já havia voltado ao normal, mas ali estava cheirando a algo queimado, nem liguei.
Sentei-me novamente em frente ao computador gigante e percebi que na tela, estava aberto um site diferente, com design diferente e tocava um áudio estrangeiro, pareciam mais batuques. Pude ler na tela as letras grandes: LENDAS QUILEUTES – LA PUSH, resolvi ler os tópicos e sobre o que se tratavam essas tais lendas. Achei muito estranho tudo aquilo, mas fechei o navegador e imprimi uns textos que havia encontrado para o nosso trabalho. Mariana chegou, e almoçamos. Depois ajudei-a a lavar as louças que sujamos e passamos o restante da tarde até as sete da noite fazendo o longo seminário.
Terminamos, e estava louca para chegar em casa e tomar um banho. Antes de me despedir dela, me interessei por uns livros velhos dela, que acabaram sendo emprestados a mim, pois nem importância ela mais dava aqueles “amontoados de papéis grudados”. Combinamos o horário da escola de amanhã e desci pelas escadas até me ver na frente de casa. Passei todo esse tempo caminhando e com os pensamentos vazios, por isso foi como uma página pulada. Mas nem tem importância, no caminho nada demais aconteceu apenas me lembrei das lendas e do circo.
Abri o portão de casa e olhei a paisagem noturna: uma bela lua cheia, um céu estrelado. Pensei que talvez fosse noite de lobos uivarem!”
O portão se fecha, aquela garota do lindo sorriso, dos cabelos encaracolados, e da pele cor de jambo entra. Seus pensamentos não são tão furados. Eles até ecoam...
A partir daí que nossa história toma uma dose de adrenalina, e prepare-se para correr os olhos pelas próximas e eletrizantes linhas...
“_ Pensei que talvez fosse noite de lobos uivarem!”