Repimboca da parafuzeta Era final de... Deborah Oliveira
Repimboca da parafuzeta
Era final de tarde, numa pequena cidade chamada Repimboca da Parafuzeta, na qual ninguém fora dela atrevia-se a citar seu nome, por uma espécie de vergonha.
Mas, vergonha por quê? Vou lhe explicar...
Repimboca é uma cidade como qualquer outra, mas com algumas diferenças.
Neste lugar as pessoas são chamadas de Djow, as crianças sabem voar, e os aviões andam de bonde. O macaco joga futebol, computador é sofrimento, caderno é paz, roupa é parede. A grosseria é substituída por carinho, o racismo pelo respeito. Pulseiras são sentimentos, saudade é paciência, amizade é família. Mulheres têm vergonha, os olhos são criativos. A amizade tem amor, e o amor gera o beijo.
Você deve estar se perguntando: ok. Mas porque vergonha?
Vergonha porque vivemos em uma cidade em que as pessoas são chamadas de gente, e essa gente é racista e grosseira. Pensa que nos viemos do macaco, caderno é sofrimento, computador é criatividade, família não sabe o que é carinho. Sentimentos geram vergonha. Quem voa é avião, o bonde trás poluição, saudade vive no fundo dos olhos, o amor só é amor se existir beijo. Mulheres usam pulseiras no lugar de roupas, a “parede” separa a paciência do respeito. Amigos denominam Djow como gíria. Nesta cidade uma das coisas que não existe é paz.
Agora você entendeu o porquê da vergonha?
Ah, esqueci de falar... Repimboca da Parafuzeta é apenas um de vários sonhos, que não passarão de sonhos.