Falibilidade Senta só este pobre Ainda... Bernardo Almeida

Falibilidade

Senta só este pobre
Ainda sonha, ilude-se
Vive desta crença e melhora

Um coitado aos olhos elitistas
Um forte, um bravo
Vigoroso em seus ideais

O soco contra a covardia
O arroto diante da boa educação
A revolta, a espontaneidade, a graça

Um papel, só um bilhete
Anunciando o próximo encontro
Já não será tão breve

Está de pé, ainda
Inabalado e coerente
O tal quebra-correntes

Corre a todo o tempo
Do tempo que lhe foi imposto
E não desiste

Queimando panos e papéis
Jamais se curva, jamais entoa hinos
E à autoridade oferece seu repúdio

Andarilho livre
Que se nega a aceitar presentes, suborno
E bebe da fonte, não do copo

Vejam, estão limpos
Mas fazem questão em rolar na lama
Gostam de emporcalhar-se

Espíritos asfaltados
Nu e cru, vasto e fértil
Um dia falecerão todos de fome

A ganância de uns
A ambição de outros
E a morte da maioria

Em resposta, a disposição em dizer não
Bater sem as mãos
E ainda assim agredir

Ferir, desagradar e continuar a sorrir
Violar, destruir, destronar
Para distribuir felicidade entre os injustiçados

Bernardo Almeida