A VIOLA DO MEU PAI Está no meu... Carlos Alberto Rodrigues...
A VIOLA DO MEU PAI
Está no meu ranchinho, bem guardadinha, uma viola especial. Não tem a nobreza da Maria Deodorina, nem o astral da Tereza. Aliás, estas são bem casadas com seus respectivos sinhozinhos-poetas-amantes .Minha viola nem nome de batismo tem...
Mas ela é especial por ter uma mística que a faz transcender os tempos e os templos sacerdotais...Os cantos-e-os-contos dos contadores-de-causos. Mandei fazê-la, daquela boa madeira que só as luas-minguantes sabem, e muito bem, fecundar-com-seu-feitiço...Coisas-e-segredos-de-alquimia!!!
Eu queria, muito, presentear meu velho pai, violeiro dos bons...Daqueles de ouvido absoluto. Porém...ah!, porém... quando o Marco da Viola, nosso luthier, me entregou a “menina-com-todas-as-suas-dignidades” afim de chorar nos braços do meu velho, foi eu quem chorou primeiro. É que meu pai havia partido para a-terra-do-sem-fim bem antes do combinado.
Por isso, minha viola é especial: suas cordas são fios de nostalgia-da-mais-pura-cepa...Ali eu posso ouvir o som que faz falta a esta minha alma rebelde e fugidia. No seu tampo sinto um colo onde aconchego meu corpo oprimido.
Como teria sido o casamento dela com o meu-mais-virtuoso-violeiro? Somente os bons violeiros saberiam dizer... E isso, só depois de acarinhar os braços dessa-saudosa-sem-nome.
Não deixo qualquer um encostar a mão nela. Ela foi santificada para ser possuída por sons angelicais. Foi oferecida em um altar-especial para quem, agora, mora perto do “Zé-Côco-do-Riachão”.Sempre pensei que uma das missões do violeiro é ser possuído por querubins celestiais para fazer com que a dor dos mortais possa se tornar uma bela coreografia.
Assim também pensava meu pai, cujo último momento, foi belo como um por-do-sol e como um “trenzinho-do-caipira” adentrando as matas...
Que as notas que gotejarem dela sejam, portanto, assim também...
Angelim-da-Maria-Deodorina e Cláudio-da-Tereza: Vocês serão bem-vindos para abençoar essa menina chorosa.