MEU PRINCÍPIO E MEU FIM" Ontem,... Antenor Ribeiro

MEU PRINCÍPIO E MEU FIM"

Ontem, esperei ouvir de você palavras que aliviassem a minh’alma daquela angústia que a oprimia. Fechei os olhos e pensei que de suas palavras eu pudesse tirar o alívio que procurava, para os pensamentos confusos e desencontrados que me povoavam a mente.
Sabe, são nesses momentos que a gente consegue perceber o que somos para alguém de quem esperamos alguma coisa. É quando necessitamos de uma palavra, de um carinho, de um gesto de amor, de um atitude de compreensão, que avaliamos a extensão e a veracidade de tudo que foi dito antes, em situações diferentes.
Mas nada disto aconteceu. Quando lhe pedi para parar e me ouvir, você passou indiferentemente. Quando imaginei que fosse encontrar seu braço estendido, me enlaçando num abraço, vi você recolhê-los e ignorar-me.
Quando meus ouvidos ansiavam pelas suas palavras de apoio e compreensão, somente ouviram seu silêncio.
Foi triste, como tristonhas são todas as decepções da vida. E esta depressão que agora me acomete é a resposta para o amor que lhe dei. Sabe...Eu tento comparar você com aquela pessoa que antes era tudo para mim e noto uma diferença tamanha, que me pergunto como pude me iludir tanto a seu respeito. Como fui capaz de ignorar a sua frieza, a dureza de sua alma, sua falta de personalidade. Como fui idiota, acreditando nas suas frases pré-fabricadas, em seus carinhos falsos, aceitando seus pensamentos como os mais certos do mundo.
Ah! Como dói reconhecer que tudo desmoronou, que nada mais existe a nos ligar, pois você, que pensei ser meu princípio e meu fim, deixa-me em meio a algo que julguei ser definitivo, para sempre, indissolúvel.
Ontem, maldisse este telefone que permaneceu mudo, sem chamar nem que fosse por engano, para enganar também a mim, que ansiava ouvir sua voz, dizendo-me que tudo era brincadeira, nada mais que uma brincadeira. Ontem a noite me encontrou a sós, ou antes, com a minha dor, minha saudade, minha frustração, minha fossa.
Nem o som do disco terminado, nem o vento entrando pela janela aberta, nem o murmúrio dos vizinhos ao lado foram capazes de me tirar da poltrona, onde derrotado, remoía os pensamentos, tentando encontrar um porquê, uma razão para o que aconteceu. Agora...
Estou acordando. Ainda tenho os olhos pesados, mas a mente está mais limpa, ou vazia. Vazia como a taça que das minhas mãos deslizou e aquietou-se no tapete. Agora estou realmente vendo que estou sozinho. Noto sua ausência, mas não a lamento. Depois de muito tempo estou acordando sem vê-la do meu lado, sem sentir seu contato, sem receber o seu bom dia. Mas estou tentando me acostumar a isto desde agora. Daqui a pouco, sairei para o trabalho e terei que levar comigo a chave desta casa, pois não ficará aqui nem sequer a sua saudade me aguardando. Estou nas derradeiras recordações de algo que julguei, fosse muito bom, e você me mostrou ser o contrário. Adeus.