Jornada Tive a incrível idéia de subir... Letícia Baños
Jornada
Tive a incrível idéia de subir o monte mais alto do mundo... Demorou certo tempo... Encontrei muitas pedras no caminho, deslizei, quase caí algumas vezes. Depois de um longo tempo subindo e subindo, já estava cansada, sentei no chão, pensei em descer. Porque era tão longe, que me deixava triste, chorei várias vezes. Sempre imaginando que eu estava sozinha.
Vivia pensando: - Se eu descer, eu vou querer voltar, então é melhor continuar, mesmo que tudo me leve pra baixo. Se eu ficar parada, vou morrer de tristeza, tenho um desejo e preciso concretizá-lo. A menos que eu caia, morra alguém me leve embora. Pise num local escorregadio. Coisas do tipo e tudo acabe de vez.
Mas logo eu me animava, ficava alegre.. O céu azul que queimava minhas costas. Só de ver aquelas folhas, aquelas plantas jamais vistas por meus olhos, me fazia encantada e crente de que quando finalmente no topo eu chegasse, eu iria ver tudo que precisava. Depois de várias horas andando e parando, percebi um grupo de pessoas subindo pelo outro lado, disse olá a todos... Alguns não me ouviram. Estavam preocupados em chegar logo. Fui observando e avistei um menino sozinho, quieto e sentado um tanto quanto triste e pensativo. Assim como eu me encontrei a algumas horas atrás. Fui cumprimentá-lo. Ele reclamou que seus pés doíam, estavam cheios de calos. Que havia chegado a explorar outras montanhas por duas vezes, mas desistiu no meio do caminho. Dessa vez era mais longe ainda. Tentei convencê-lo que dessa vez ele iria conseguir, pois eu iria ajudá-lo. E que não havia mais razão para tristeza. Eu lhe daria a mão. O grupo o qual ele acompanhava nem perguntou se ele estava bem, simplesmente seguiu e um rapaz irônico disse: - Desça, você é um fracote mesmo. Fica aí seu bobo!
Me vi como ele. Mas eu subi sozinha, era eu versos eu. Não havia ninguém para me fazer desistir... Só eu mesma.
Então o menino sorriu e pegou na minha mão. Fomos juntos, conversando. Ele era um menino muito inteligente, sensível e adorável, mesmo com todo aquele medo. Me contou as coisas que ele gostava, o que fazia... Ainda faltava um bocado. De repente começou a chuva, mas logo avistamos um local para esperar que passasse. Havia uma caverna... Era divino! Estava tudo tão calmo, tão bom!
Tínhamos tudo que precisávamos... Água, comida, ar puro. Tudo. E agora tínhamos ânimo. Eu estava feliz. Tudo foi se encaixando. E assim, passou-se o tempo, ficamos amigos. Depois de uma longa caminhada, avistamos o ponto mais alto que queríamos.
Era lindo! Aquele vento, aquelas pessoas satisfeitas. Algumas emocionadas com tamanha beleza da natureza. O céu parecia que dava para tocar. Parecia algodão doce. À noite então. As estrelas. Era inexplicável tudo aquilo. Acho que nunca havia me sentido tão bem e feliz de verdade.
Quando olhei o menino distante e o quanto ele estava quieto, fechado, com uma cara de que não tava muito satisfeito. Afastado de todo o pessoal.
Fui lá ver o que havia com ele dessa vez. Antes ele parecia tão bem, e curioso pela chegada. E de repente o semblante mudou de novo.
Ele me disse: - Achei que havia algo de diferente aqui. Isso tudo eu poderia ver lá embaixo. Fiquei calada.
Ele estava certo. Não havia nada de novidade. A paisagem era mesmo a mesma. O que eu poderia dizer?
Ele estava frustrado. Isso me deixou um tanto triste também. Mas continuamos lá. Alguns dias e ele pareceu melhorar, estava sorrindo. Conversando com as outras pessoas. Peguei ele observando o horizonte e gritou bem alto: - Nossa! Isso tudo é maravilhoso! E soltou uma longa gargalhada.
Achei estranho. A pouco tempo ele dizia estar insatisfeito.
Então, enquanto eu bebia a água da fonte, ele se aproximou e disse:
-Me desculpa!
Você esteve sempre certa. Tudo aqui é perfeito. Não há nada de ruim. Tenho tudo de que preciso. E a melhor coisa que me aconteceu, foi ter lhe achado no caminho.
Uma lágrima caiu de seu rosto e eu o abracei.
Ele entendeu.
Tudo parece nada, mas é o motivo que temos para viver.