Mulher e Seda Há algo em cada mulher... Carlos Adriano
Mulher e Seda
Há algo em cada mulher que se tateia como se tocássemos seda.
Não me refiro ao que há de frívolo ou comum na expressão "como seda",
mas a algo mais radical que se tateia porque não se sabe e fascina;
que é seda porque especiaria, porque de procedência outra e mistério.
Há algo em cada mulher; ou melhor, na atmosfera que envolve cada mulher,
que transforma as coisas e as faz mais interessantes.
Em torno de cada mulher há um silêncio;
levíssima ausência que sentimos na espinha.
A atmosfera em torno de cada mulher recolhe todas as palavras e,
algumas vezes, nos leva também o ar.
Diante de certas mulheres, há paisagens inteiras.
Há mulheres líquidas que olham como se derramassem o oceano sobre nós e,
outras, diante das quais pressentimos intimidade sombria
com rumor de águas fundas.
Há mulheres de doçura múltipla e de uma urgência que alimenta
e outras que, quando se as vê, prenuncia-se tormenta.
Há mulheres febris e mulheres simétricas.
As que emergiram de uma tela e as que saíram de uma fruta.
Há ,mulheres que flutuam, que deslocam-se como um conceito.
Algumas ventam e tanto que nos sopram num canto;
outras são de lua e nos beijam na rua.
E há aquelas que perdemos; as que não veremos nunca mais.
Mulheres que nos invadem ainda;
às vezes, como punhais.
Há algo em cada mulher que se tateia como se tocássemos seda.
No sentido também de como deve ser sensível o nosso toque.
Que ele não fira. Que não tergiverse e não desvie.
Que seja simples e inteiro sempre.
Que, sobretudo, nosso toque seja tão somente um jeito
de realçar o que faz da seda feminina.
O que nos encanta, além da palavra, o que desconcerta,
neste ser que ilumina.