VERA Na saudade o coração da gente se... Maria Alice Guimarães
VERA
Na saudade o coração da gente se rompe, quando alguma coisa fora de nós bate com força e libera as lembranças...”
Vera! Tenho uma irmã na eternidade chamada Vera. Foi embora com apenas vinte e seis anos em pleno Natal.
Vestida de azul e com as unhas pintadas de cor-de-rosa, Vera se foi sem reclamar. Sabia que teria vida breve, por isso viveu sem se importar com coisas banais. E aproveitou seu curto tempo para rir muito, estudar, trabalhar e amar a todos com quem conviveu, mesmo que por pouco tempo. Vera viveu como se fosse eterna. Talvez por isso se luarizou nas nossas lembranças ou virou estrelinha, como dissemos às nossas crianças, seus pequenos sobrinhos, quando ela se foi.
Sempre que me pego aborrecida é nela que penso. De que poderia eu reclamar ? Vera não embalou nem amamentou o filho que abrigou em seu frágil corpo por sete meses, não viu seus sobrinhos crescerem, não participou dos casamentos nem dos batizados, das formaturas e dos funerais familiares. O dela foi o primeiro, o mais triste e doloroso porque Vera era Veríssima, especial, verdadeira e jovem.
Sempre recebo sua visita em meus sonhos. E tudo é tão real que fico por dias com a impressão de que conversamos por horas no sofá da sala, nos contamos as novidades da terra e do céu, de moda e das amigas que tenho na Internet, que ela nem sabe o que é. E vai de volta para sua casa, mas nunca me quer dizer onde fica. Apenas promete que voltará que eu não me preocupe com ela. Abraça-me, se diz saudável ( e parece ) , despede-se e vai embora.
E volta quando eu menos espero. às vezes sei que vem em alguma mulher que , como ela , se chama Vera suave e verdadeira do jeito que a guardo na lembrança. Como agora que chega à minha vida uma nova Verinha, sorridente, linda e feliz. Mas também pode chamar-se Helena, Eloísa ou Beatriz. Penso que ela tem alguns poderes que desconheço entre eles mudar de nome, exibir rostos diferentes , ser alta, baixa, magra ou gorda, só para me enganar para depois rir de mim como quando escondia meus brinquedos.
Nas minhas verdadeiras amigas encontro um pouco dela, na generosidade de uma, na alegria de outra , na solidariedade de todas. Assim a conservo intacta na minha memória e sempre que é noite em que as estrelas são visíveis imagino em qual delas ela mora.