O grandão Ficamos frente a frente como... Carolline Souza
O grandão
Ficamos frente a frente como num duelo, ele ali enorme, colossal e omnipotente e eu tão pequenina.
Ele parecia muito mais zangado do que eu pensava, ia e vinha em secções de ondas violentas que faziam um barulho ensurdecedor.
No entanto, dentro de mim uma paz, sentia nos meus pés o granulado da areia, o vento a bater na minha face trazendo o doce aroma da maresia.
Eu e ele, o Grandão, finalmente tinha chegado a hora.
Abri os meus olhos, e com toda a minha sabedoria de gente pequena o fitei com olhos de desafio.
"Eu não tenho medo de você" Disse baixinho, era verdade não tinha medo.
Ele pareceu ficar ainda mais zangado.
E foi então que eu corri, as minhas pernas pequenas tornaram-se gigantes, os meus braços viraram asas, eu voava e os meus pés estavam no chão.
Foi então que os nossos corpos se fundiram, eu e ele, éramos um só, ele abraçou-me, pegou-me nos seus braços e me levou ao céu.
Todo ele estava em mim, como sempre estivera, sentia o seu calor na minha pele, e sorria, me perdi de amores pela sua imensidão azul.
"É Grandão, agora somos só nos dois..."
Eu e o Mar... Somos feitos do mesmo elemento.
Não lembro exactamente a idade que tinha nesta altura, mas lembro de cada pormenor daquele momento, o momento que eu e o meu Grandão começamos a caminhar com o mesmo passo.
E mesmo quando estou na selva de pedra, escuto o bater das tuas ondas e é feita a melodia.