A droga do adeus. O tempo passa,... Carolina Pires
A droga do adeus.
O tempo passa, fazem-se os planos e a cada segundo eles tornam-se mais palpáveis, mas não cabe a você crer que um dia, aquilo que mais temia, seria capaz de incidir de fato. Ainda me recordo das brigas que terminavam às tapas e que tinham que ser apartadas por terceiras pessoas antes que nós arrancássemos os cabelos uma da outra, das minhas lágrimas soluçadas de tanto drama, eu, a mais nova, sempre atentando e a mais velha sempre levando a culpa, pra falar a verdade, ela sempre foi o meu maior entretenimento.
As malas tiveram de ser feitas, os livros encaixotados e eu ali ao lado me fazendo tolerar aquela situação toda como se fosse a mais comum, é, mas ao mesmo tempo não é. Aquela pessoa que sempre segui como modelo, que desde bebê eu queria fazer coisas iguais, o meu ideal, enfim seguiu seu rumo e no bom sentido, se é que existe, abandonou-me. Agora lágrimas infatigáveis percorrem as linhas do meu rosto, é a saudade batendo à porta. Quanta desventura.
Tantos anos brigando, não suportando ter de suportá-la e quando os dois lados da balança por fim entram em equilíbrio, quando surge um tamanho apego uma pela outra, dessa vez maior do que aquele remoto, existente, mas que não ostentávamos, dizíamos ser imperceptível e só o assumíamos na frente da família com um certo ar de sarcasmo, no fundo pensando “Droga! Pra que raios serve essa porcaria de amor fraternal?”, agora cai-me ao colo como uma pedra, das mais pesadas e eu não sei o que fazer com ela. Parece que na nossa cabeça era impraticável pensar que um dia diríamos aos outros que nos amávamos como irmãs. Ela continua sendo meu espelho.
Tardes brincando, inventando personagens, pagando micos que em público negávamos até a morte dizer que fazíamos o tal, como quase que um milagre, nós nos tornamos amigas a ponto de trocarmos certas confidências. Por mais que eu saiba que é o que ela sempre quis, que é o melhor pra ela, que é o sonho dela... Dói, não sei exemplificar o quanto, mas dói, até demais.
A hora de dizer adeus pareceu-me impraticável, agora calhou-me e mesmo assim, não consegui nem ao menos soletra-lo. A-D-E-U-S, simples assim, mas não deu.
- Tia Marina, quando eu crescer quero ser modelo pra desfilar as roupas que você desenhar pra mim. – Foi o que disse a nossa sobrinha Gabriela e eu, digo o mesmo, não precisamente com essas palavras, mas o desígnio é o mesmo, apenas seguir a linha tracejada que ela deixou pra mim. Ter a garra que ela teve, a deliberação, a persistência e a paciência. Como poucos, por confiar que podia, ela conseguiu e eu espero conseguir dar os mesmos passos, a profissão não será a mesma, mas o caminho a ser percorrido sim, eu sei que é o que ela quer pra mim, pois como ninguém ela sempre acreditou no meu melhor, por menor que seja, mas sempre o meu melhor.
Sempre presente nos meus bastidores, falando pelas minhas costas meus pontos fortes e o que desejava pra mim, como todo publicitário que se preze, sempre fazendo uma propaganda e tanto sobre mim. Agora foi um abraço, o sentir de uma lágrima dela cair sobre meu ombro e um soluçar apertado de ambas. Dei minhas felicitações, no abraço tentei passar toda a coragem e entusiasmo que se alojam no meu corpo e fui pega de surpresa por um “eu te amo”, com certeza o mais doloroso.
- Eu também.
Boa sorte na tua carreira, desejo que realizes todos os teus sonhos aí em São Paulo e que essa tua mudança traga sempre o melhor. Agora sim poderei sair pela rua dizendo a todos com todo o orgulho que sinto de ti: Eu amo minha irmã ESTILISTA.
Amo-te.