Hoje me olhei no espelho, por muito... Roberto dos Santos Vaz
Hoje me olhei no espelho, por muito tempo.
Percebi que meus cabelos brancos não condizem com o meu sorriso.
Que minhas rugas não fazem par perfeito com o meu olhar.
Como pode um senhor ter nos olhos um espírito tão jovem?
Será que o sorriso e olhar não envelhecem?
Percebi que nos olhos a esperança e pujança de trinta, quarenta, cinqüenta anos atrás ainda vive.
O sorriso é tal e qual o da foto de criança, que tirei com terninho para enviar aos meus parentes.
Mas por que rugas se não me vejo velho?
Seria as rugas a tristeza do meu corpo? Algum tipo de sinal para quem me vê de fora e que a natureza diz para respeitar?
Sei lá. Acho apenas que não mudou nada. Sonho da mesma forma; brinco como sempre; sorrio muito. Sim, estou mais velho na carcaça. Seria como comparar uma pick up Pajero com um elegante Land Rover. Mas cada um tem seu glorioso espaço.
Acho que envelhecer é coisa de matéria, pois o espírito não envelhece.
Meu espírito sonha, cria, ama... Chora quando triste, mas se levanta e não olha para trás.
Soma-se às pessoas, não se furta a se doar. Meu espírito sofreu perdas, mas, recompensado, ganha muita felicidade por onde passa.
Meu espírito é imortal, pois foi criando para viver eternamente e ele sabe disso. Adora o entardecer; admira o céu, e é da natureza. Irmana-se à lua, ao sol e só tem esperança.
Olhando no espelho redescobri que o que vale são meus olhos e meu sorriso, pois tenha a certeza, eles são partes de Deus.