Olhos marejados Sempre agi por impulso,... Márcia Duarte
Olhos marejados
Sempre agi por impulso, sem qualquer dúvida ou remorso. Sempre fui firme quanto ao que falar ou fazer. Meu comportamento sempre dependeu do meu humor, das minhas vontades, e por mais que nem todas as minhas escolhas tenham sido acertadas, isso justificava e me deixava livre de qualquer arrependimento.
Entretanto, nesses últimos dias mal posso reconhecer a menina que miro de relance no espelho. A menina que tenho evitado encarar. Tanta coisa eu preciso dizer, tanta coisa quero fazer. Sentimentos suplicam para sair de dentro de mim. Tudo que eu quero guardar e esquecer que algum dia eu já quis colocar para fora.
Escrevo rascunhos todos os dias. Rabiscos imaginários de cartas que nunca colocarei no papel, esboços de e-mails e mensagens de celular que prefiro colocar na caixa de não enviadas a apertar o botãozinho verde que as encaminhariam ao seu destinatário.
Às vezes temos tanto a dizer, tanto a demonstrar, que nenhuma palavra parece ser mais eficaz do que o silêncio. Às vezes olhos marejados de lágrimas dizem mais do que páginas e mais páginas de texto.