Paciência – um presente do tempo ou o... Gabriela Mafra Guerreiro
Paciência – um presente do tempo ou o pesadelo das horas?
“Um momento de paciência pode evitar um grande desastre; um momento de impaciência pode arruinar toda uma vida.” (Provérbio chinês)
Que virtudes há em se ter paciência?
Estávamos dentro de um universo só nosso, a barriga de uma mãe, onde imperávamos e éramos satisfeitos de imediato a cada sinal de necessidade. Nascemos como criaturas egoístas nomeadas homem e mulher. Queríamos mais, por isso rompemos a placenta no caminho da luz, para possuir a luz, o ar e o mundo, passamos a vida inteira a buscar mais e mais. Passamos então a descobrir – com muitas lágrimas e quedas, arranhões e surras, mas também com prazeres, sorrisos e delírios – que o mundo não gira ao nosso redor, nós é que precisamos para este mundo girar. Forçados a aprender que nem todas as nossas necessidades são satisfeitas da forma ou no momento exato que queremos, aprendemos que não adianta espernear, gritar, brigar ou chorar, mas sim exercitar a paciência. Na medida em que vamos crescendo e convivendo com outras pessoas, tão egoístas e idênticas a nós mesmos, percebemos que é preciso ser paciente para poder conviver bem na famosa sociedade. E enamorar-se, casar-se, reproduzir-se, ser feliz.
Paciência pode ser definida como o grande bem de nutrir o controle emocional, nunca perder a calma ao longo do tempo, por mais que esse demore a chegar. Versa basicamente sobre a tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade ímpar de suportar os mais sortidos incômodos e dificuldades de toda ordem a toda e qualquer hora e/ou em todo e qualquer lugar. É a capacidade de persistir, perseverar, permanecer em uma atividade abstrusa, tendo ação tranqüila, uma maneira equilibrada de se encarar a vida, acreditando que se alcançará o que se quer. É também esperar o momento certo para certas atitudes, é o aguardar em paz a compreensão que ainda não se tenha alcançado. É a aptidão de ouvir alguém com tranqüilidade, com atenção, sem ter a pressa que destrói o zelo. É a disposição de se deixar libertar da ansiedade. Ser paciente é ser afável, ser humanizado e saber agir com sabedoria e com educação. A paciência é a caridade quando praticada em verdade e em sua essência.
Penso que todas as virtudes pertencentes à paciência estão no aprender a ser alguém melhor quando se precisa esperar pelo tão famoso tempo, pelos dias passarem e pelas soluções da vida que simplesmente acontecerão diante da nossa existência. Mas nem sempre essa espera é tão simples ou doce. Só quem já esperou (ou espera) sabe o quanto é cruel tecer minutos cultivando paciência. Quem tem pressa para acontecer, muitas vezes não se importa em atropelar as grandes lições e causar acidentes quase mortais. Quem espera pelo futuro mergulhado na ansiedade do querer agir antes de poder agir, segue pelo caminho quase sempre mais extenso. Quem não conhece paciência de forma íntima, tende a encontrá-la das formas mais dolorosas e inesperadas. O fato diário é que a vida não pára e nem sempre se aprende paciência quando você olha no espelho e tem um reflexo envelhecido do que você deseja ainda ser. Aonde se quer chegar? Corre-se tanto para que? Por quem? O corpo, a alma, o coração vai agüentar? O mundo está apenas na sua primeira volta quando o sol bate a janela do seu quarto e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol. Com ou sem a paciência! Teilhard de Chardin me fez pensar essa tarde neste aprender amargo de se conquistar paciência enquanto o sol se põe diante dos meus olhos, percebi que minhas respostas a essas perguntas também estão vagas demais por esses dias que deixo passar com tanta ansiedade, e que para colher doces frutos, melhor é cultivar paciência.