“Certo dia, conversando com um amigo,... Cris Andra
“Certo dia, conversando com um amigo, perguntei-lhe:
- Se pudesse voltar ao passado, o que mudaria em sua vida?
Após pensar por alguns segundos, ele olhou-me e deu-me uma resposta que me surpreendeu:
- Nada.
- Como assim: “nada”? – questionei-o, espantado – Você não lastima os erros que cometeu, não gostaria de ter evitado situações e pessoas que o fizeram sofrer?
- Com certeza – disse-me ele – eu gostaria de ter cometido menos erros e houve muitas situações que, se evitadas, teriam me poupado muitos sofrimentos, mas, mesmo que pudesse, eu não mudaria nada.
Diante de minha perplexidade, ele continuou:
- Pode parecer loucura, mas o fato é que, embora eu tenha passado por muitas dificuldades e situações problemáticas na vida, tenho consciência de que tudo o que sou hoje devo aos fatos, situações e pessoas que fizeram parte da minha história, tanto em momentos bons quanto em ruins. Foi devido a tudo quanto enfrentei e vivi até hoje que me tornei a pessoa que sou. E, sinceramente, - revelou-me ele – eu gosto da pessoa que vejo quando me olho no espelho, apesar de não ser perfeito e de ter muitíssimo ainda o que aprender e melhorar.
- Mas fico pensando – iniciei – se talvez não tivéssemos nos tornado pessoas melhores se pudéssemos voltar atrás e evitar certos erros que cometemos.
- Talvez – disse-me ele. Mas é um risco que eu não gostaria de correr. Um só fato que mudamos em nossa história pode alterar completamente nossa trajetória de vida, tanto para melhor quanto para pior. Com certeza há muitos erros que cometi e que me trouxeram conseqüências que eu preferiria ter evitado, mas como saberia eu que conseqüências seriam essas se eu não as tivesse experimentado? Como saberia eu que tal atitude ou escolha seria um erro se não a tivesse tomado? Muitos dos erros que hoje lamentamos só se caracterizaram como erros em nossa mente e em nossa memória justamente porque os cometemos. Se não o tivéssemos feito, não teríamos aprendido a lição.
- É certo que não precisamos cometer todos os erros – continuou ele – para comprovarmos quanto são prejudiciais. Temos de cultivar a sabedoria de observar os erros cometidos pelos outros e aprender com eles sem necessitarmos comete-los nós mesmos. Contudo, há situações que muitas vezes não enxergamos ou das quais não temos conhecimento até que passemos por elas. A questão não é rebelarmo-nos contra as intempéries da vida, mas aprendermos com elas. Não somos infelizes quando passamos por dificuldades, mas quando não aprendemos nada com isso; quando insistimos em colocar a razão de nossos infortúnios em fatos externos e no destino, e não em nossa maneira de agir; quando não usamos os obstáculos para analisar a forma como estão estamos levando a vida. Com relação a isso, hoje eu consigo perceber que me tornei uma pessoa muito mais madura que antes, mesmo tendo muito o que aprender pela frente. Mas sei que a pessoa que me tornei hoje deve-se a tudo o que passei em minha história. Se eu mudasse qualquer coisa em meu passado, talvez evitasse alguns sofrimentos, mas provavelmente me faria chegar a ser hoje uma pessoa totalmente diferente, alguém de quem, talvez, eu não gostaria de ser...
Naquele dia eu despedi-me de meu amigo em estado de reflexão. Aprendi muito mais naquela simples conversa informal que em muitos seminários a que tinha assistido. Eu nunca havia encarado a vida por aquele ângulo, nunca havia parado para pensar que, se passássemos menos tempo lastimando os percalços da vida e usássemos esse tempo para aceitar a realidade como ela é e refletir sobre o modo como estamos reagindo a ela, seríamos pessoas muito mais maduras, tranqüilas e felizes. Naquele dia eu questionei meu amigo sobre as frustrações da vida, mas ele me ensinou sobre sabedoria”.