Houve quem pensasse que nunca chegaria... Rafael Sorano

Houve quem pensasse que nunca chegaria ao fim de tão grande. Eles mesmos pensaram. De certos que estiveram, nunca mais se olharam de verdade. Aquele olhar que enxerga dentro, no fundo d´alma. O tempo passara e já não eram eles. Desfigurados, indeterminados, não sabiam quem eram. Na história que viveram, cada um se tornara coisa sem importância de ser, de ver. Esqueceram até quem foram para ser do outro. Como que fundidos num, um não foi sem que o outro fosse. E foram, então, juntos, além. Os sonhos eram únicos, assim como mesmos eram em si. Não conseguiram saber onde um queria e o outro não. Indignaram-se, querendo, que uma porção pudesse não querer. Deixaram de querer para quererem. Quiseram tanto mais do que quereriam. Ou menos, outras vezes. Assim, sem se reconhecerem insatisfeitos, indivisíveis, viveram sós. Decompondo-se, viveram combinados, fatalmente compostos. O tempo passara e já não eram eles. Não eram eles. Contornara-se um outro no lugar. Renderam-se ao outro como se dispuseram à disposição um do outro. Chegara o tempo quando o outro, esse sim, se tornara a quantidade exata deles. Naquele tempo, ainda pensaram que não chegaria ao fim de tão grande. De tão grande, não se contiveram em nenhum. E insistiram mais. Estruturara-se na fragilidade deles um outro que não era ninguém, que anulara os dois. Não se viram e não se sentiram até que não se tiveram por completo. Não se tinham há muito. Nem sabiam mais o que era ter. Nem pensaram nisso. Só reconheceram e tiveram e eram um outro. O outro que se tornaram sem eles.